São mais de um bilhão de pessoas no mundo todo conectadas por meio do Facebook. Cerca de 140 milhões de seguidores interagindo pelo Twitter. Mais de 400 milhões utilizando as mensagens do WhatsApp. Os dados são exorbitantes e demonstram que as redes sociais, mais do que um meio de comunicação, já representam um estilo de vida em que o normal é publicar os detalhes cotidianos nos perfis virtuais. Mas e o jornalista, como interage nesse universo?
Os números citados acima obviamente comprovam que o jornalista não deve ficar excluído desse ambiente, afinal além de toda essa tecnologia facilitar muito a comunicação entre profissionais, amigos e fontes, o jornalista precisa participar desse universo para entender a nova realidade das relações humanas. No entanto os comunicadores precisam estar cientes do que publicam em seus perfis sociais para evitar equívocos, inimizades e influências desnecessárias.
Para isso, alguns jornalistas mantêm perfis profissionais e pessoais separadamente com o intuito de evitar confusões e conflitos de interesse. Ainda assim, há comportamentos típicos de jornalistas #conectados, aqui identificados sem a menor pretensão de fazer jus à realidade. Qualquer semelhança será mera coincidência.
Jornalista revoltadinho
Há aqueles profissionais que, ao terem algum problema com prestadoras de serviço decidem extravasar a raiva estimulando os colegas das redes sociais a também avacalharem as empresas. Essa é uma atitude comum para algumas pessoas, no entanto, não é lá muito agradável, especialmente para os jornalistas que, teoricamente, recebem muita credibilidade pelo que divulgam. Portanto pense um pouco antes de reclamar daquela operadora e só faça isso se tiver plena confiança de sua razão.
Jornalista docudrama
Sabe aquele jornalista que vive postando mensagens de autoajuda e sobre ter uma vidinha mais ou menos? Pois é, há um pessoal que adora usar Facebook e afins para chamar a atenção dos “amigos” sobre as dificuldades da vida. Mas já que o fato de a vida ser complicada não é novidade para ninguém, evite ficar chamando atenção para o quanto você sofre. Além de chato, isso pode balançar sua credibilidade, afinal, vai que na hora de entrevistar a fonte ela fique mais interessada pelo seu docudrama do que pela pauta?!
Jornalista “culpador de governo”
Um clássico. Há uns profissionais reclamões capazes de responsabilizar o governo por absolutamente tudo. Se o trânsito está parado pelo excesso de veículos a culpa é do poder público. Se está calor a culpa é do governo que permite tanto investimento em indústrias poluidoras. Se há animais na rua a culpa é do setor municipal de zoonoses. Se a cidade está suja é porque a prefeitura não está limpando. A única variação nas postagens do sujeito é entre culpar a administração municipal, estadual ou federal. Para ele o cidadão é um alien e não responde por nada. Faz isso não colega, jornalista tem de ser consciente de que a sociedade é formada por TODOS e, embora os governos tenham responsabilidades, o cidadão também tem as suas.
Jornalista noticiário
Essa categoria engloba a maioria dos repórteres. Curte a página de todos os meios de comunicação possíveis (inclusive do exterior) e compartilha tudo quanto é notícia. O tempo todo. Com e sem comentários sobre o assunto. É bacana se sentir responsável por manter a cambada informada, mas vá lá, todo excesso estimula o mouse a escolher a opção “Deixar de seguir”. Portanto resista a tantas ofertas e compartilhe só o mais importante. Mesmo.
Jornalista “quero ser demitido!”
Sim, ainda há uns jornalistas que publicam o quanto o trabalho está uma droga. Só falta marcarem o chefe. Frases do tipo “mais um dia sendo #explorado”, “#jornalistafaztudo”, “#10horastrabalhadas #sóporhoje”, “Mais um fim de semana que só eu pego #plantão”, bombam nos perfis de muitos repórteres por aí. Na boa, que tal postar #fazendodetudoparaserdemitido e marcar o editor? Facilita bastante né, seu bolha!
Jornalista famoso
Não são muitos, mas há uns profissionais famosos que precisam postar detalhes de suas reportagens antes mesmo de elas irem ao ar. Ou pior, postam umas polêmicas só para dar uma testada na credibilidade. Melhor não colega, vai que a fonte foge ao saber da pauta com antecedência ou que o pessoal não esteja confiando muito no seu taco e faça uns comentários desagradáveis sobre sua atuação. Tem coisa que é melhor saber pelo chat.
Jornalista popular
O Facebook do sujeito tem quase mil amigos adicionados e o Twiter mais seguidores que o Bin Laden, ou seja, o indivíduo adiciona todas as fontes com quem já fez contato ao longo da carreira. E qual o problema disso? Nenhum ué. Mas fala sério, você vai mesmo ser amigo de todas as fontes? Bizarro!
Jornalista ativista
Vixe, melhor seguir só as atualizações importantes desse aí, caso contrário sua timeline ficará sempre repleta de animais mal tratados, desmatamentos, pessoas abusadas e agredidas, gente passando fome. Ok, o trabalho é bacana e merece atenção, mas quem publica todas as ações e absurdos no Facebook pode não estar realmente “lutando pelas causas difíceis”. Antes de curtir o sujeito é melhor verificar isso aí.
Jornalista projetista
É aquele cara que tem sempre mil projetos em andamento. Trabalha como fixo em um veículo, é freelancer em mais cinco, colunista em outro jornal e escreve livros. O problema é que publica tanto sobre esses projetos que nunca sai do Facebook e aí, naturalmente, a gente desconfia se os planos estão mesmo se concretizando.
Jornalista furão
Esse aí vive perdendo pauta e não sabe por quê. Toda ideia de pauta ele compartilha no Facebook e no Twitter para saber a opinião da galera e já usá-los como fonte. Um conselho: use esse recurso com moderação, pois apesar de facilitar a vida, pode estar alimentando pautas no jornal alheio.
Jornalista baladeiro
É o sujeito que ao invés de postar notícias a rodo, compartilha infinitas fotos com o copo na mão e abraçado com os amigos. Melhor ir devagar com a bebedeira, porque tem muito jornalista ficcional pinguço. E como dizem… A arte imita a vida. Além disso, a credibilidade pode ficar tonta quando as pessoas o associarem a bebida e a vida de boêmia.
Jornalista #ficaadica
Quando usa esse termo, provavelmente está fazendo alguma indireta aos colegas de trabalho ou ao editor ou à fonte ou ao assessor de imprensa. Pode observar, é batata! Melhor guardar para si aquelas coisinhas incômodas peculiares às relações jornalísticas ou, no máximo, mandar um recadinho pelo chat para o colega. #Ficaadica.
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Esses são alguns dos espécimes de jornalistas utilizando perfis sociais. E é muito provável que você se identifique com um ou mais exemplos. Não se preocupe, isso é normal, porque jornalista não consegue deixar, nem virtualmente, de ser jornalista. O importante mesmo é avaliar o que você tem compartilhado frequentemente e com quem. E observar o que suas postagens demonstram sobre sua atuação profissional. Por fim, lembre-se de pensar alguns segundos antes de postar, porque tem coisa que é melhor deixar em off.
Ah, se você souber de outros exemplos de comportamentos jornalísticos na rede, compartilhe conosco através dos comentários na página!
Por Andreza Galiego