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O que os profissionais do jornalismo devem saber e o público deve exigir

Jornalismo

O livro “Os Elementos do Jornalismo: o que os jornalistas devem saber e o público deve exigir”, de Bill Kovach e Tom Rosenstiel, publicado em 2003, no Brasil, é uma leitura indispensável para quem exerce ou pretende exercer o jornalismo como profissão. Com uma análise objetiva e completa sobre o que é e o que se espera de um jornalista, os autores trazem uma análise do modelo jornalístico norte-americano que, sem dúvida, serve também para o brasileiro. A obra, com 302 páginas, divididas em dez capítulos, explora o compromisso do jornalista com a sociedade e o quanto a checagem das informações é importante para que sejam confiáveis.

Preocupados com o futuro do jornalismo, 25 influentes jornalistas norte-americanos se reuniram em Harvard, em 1997, com a intenção de analisar a profissão. Eles estavam convencidos de que a influência dos anunciantes e das novas tecnologias sobre os meios de comunicação geravam problemas e, em consequência, a sociedade vinha perdendo sua confiança no que era noticiado. A vulgarização dos noticiários vinculados ao mercado capitalista e a desmoralização do modelo clássico de reportagem, além dos programas de entretenimento disfarçados de jornalismo, motivaram a criação do “Committee of Concerned Journalists” (Comitê dos Jornalistas Preocupados ou Interessados). A partir dessa constatação, o Comitê elaborou uma pesquisa envolvendo a sociedade, estudantes de comunicação e 300 jornalistas que deram seu depoimento sobre o que é, de fato, jornalismo e sobre as expectativas da profissão. Nove enunciados foram escolhidos pelos participantes do processo como fundamentais para a prática jornalística na sociedade.

A questão de fundo apresentada no primeiro capítulo traz a seguinte questão: “Para que serve o jornalismo? “De acordo com os autores, o jornalismo serve para construir a comunidade, a democracia. Ele deve fornecer informações às pessoas para que sejam livres e capazes de se autogovernar: “as sociedades que querem suprimir a liberdade devem primeiro suprimir a imprensa”. O jornalismo influencia a qualidade de nossas vidas, nossos pensamentos e nossa cultura. Enfim, um bom jornalismo deve ser comprometido com verdade, disciplina, independência e lealdade.

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E por falar em lealdade, essa é outra questão levantada pelos autores: “O que significa ser leal com o público? “Para ser leal à sociedade é preciso ser dedicado e honesto. O jornalista não pode nem deve acrescentar nada além dos fatos. É preciso manter a qualidade, coerência, exatidão e veracidade na apuração e na elaboração das matérias. É o que a sociedade espera de um jornalista.

Por várias vezes, a pressão dos anunciantes põe em xeque a credibilidade da imprensa e vai contra a obrigação principal do jornalismo, segundo os jornalistas entrevistados, que é o compromisso com a verdade.

A questão da verificação dos fatos é tão importante, que foi escolhida por unanimidade entre profissionais do ramo e acadêmicos entrevistados como o principal critério para o exercício da profissão. Embora confuso, o conceito de verdade segundo Kovach e Rosenstiel, é “o primeiro princípio” do jornalismo, aquilo “que diferencia a profissão de todas as outras formas de comunicação”. Sim, é confuso, mas dessa forma, os autores estimulam os jornalistas a checarem e rechecarem as informações até se chegar à verdade dos fatos propriamente dita.

“Em resumo, a necessidade da verdade é maior, não menor, considerando que a presença da inverdade tem sido muito mais prevalecente”, os autores exemplificam: “Um debate entre oponentes que discutem com números falsos ou com base em preconceitos não informa coisa alguma, só levanta poeira. E tampouco leva a sociedade a lugar algum.”

Tom Rosenstiel
Tom Rosenstiel

O compromisso com o cidadão é essencial na relação público jornalista. É preciso responsabilidade, já que a informação independente é fundamental para a democracia, e é exatamente ela que nos permite, por exemplo, participar de processos importantes como a escolha do governo.

No decorrer de todo o livro, os autores citam várias vezes que o papel do jornalista é contribuir para o exercício contínuo da democracia e que seu compromisso é com o público. No entanto, apesar de definir os principais elementos para um bom jornalismo, os autores, os integrantes do Comitê, os estudantes de jornalismo ou mesmo os demais profissionais da área não souberam definir o que é jornalismo. Concluíram, então, que “uma definição do jornalismo tornará a profissão mais resistente às mudanças ao longo do tempo, o que poderia ocasionar até o desaparecimento da profissão (…) cada geração cria seu próprio jornalismo.”.

Hoje, com o advento da internet, as pessoas têm acesso cada vez mais democratizado às informações. Elas próprias escrevem seus textos, baseados nos próprios interesses, e os expõem em sites, blogs e redes sociais. Ou seja, numa era em que qualquer pessoa pode ser repórter, o papel do novo jornalista é, antes de qualquer outra coisa, checar as informações e ordená-las de forma que o leitor possa entender e confiar nelas.

Bill Kovach
Bill Kovach

O importante é servir o indivíduo com informações relevantes para a melhoria da sociedade. Esse é o papel do jornalista: formar opiniões, conscientizar a população, oferecer à sociedade conhecimento e informações úteis em benefício das pessoas, além de contribuir para o crescimento individual, profissional e social do cidadão. Nesse ponto, adotam o lema:”Ilumine, e o povo encontrará seu próprio caminho”(cabeçalho dos jornais da Scripps Company).

Ler cada elemento indispensável para um bom jornalismo, segundo Bill Kovach e Tom Rosenstiel, fundamenta algumas expectativas que os estudantes alimentam ao escolher o jornalismo como profissão. Para os jovens cheios de idealismos, os noticiários estão longe de apurar o que a sociedade precisa e deve saber. Daí você se pergunta: Qual é o papel do jornalista? Kovach e Rosenstiel indicam algumas direções e possibilidades ao traçar os nove elementos fundamentais para um jornalismo ideal. Que tal conferir?

Por Caroline Lucas, matéria originalmente publicada no jornal da ANJ em agosto de 2012.

Perfil de Caroline Lucas

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Caroline Lucas, jornalista, formada, em 2012, pela Faculdade Integrada de Ensino Superior (Icesp/Promove). Enquanto estudante, estagiou em órgão públicos, deu uma passadinha de 1 ano e meio pela Empresa Brasileira de Comunicação (EBC), concomitantemente ficou por 2 anos na Organização Não Governamental (WWF-Brasil) e rádio Cultura (voluntária). Por fim, estagiou na Associação Nacional de Jornais. Pós-formada, trabalhou no Grupo de Comunicação TV1, e, atualmente é assessora de comunicação da Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior.

“Exercer o jornalismo é para mim, antes de tudo, exercício de cidadania.”

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