No dia 29 de março foi realizado no Auditório Wladimir Herzog, localizado na Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, a oficina “O espaço da mulher no jornalismo”. O evento teve por objetivo avaliar os problemas que as mulheres, sobretudo as jornalistas, enfrentam para se firmar no mercado de trabalho. Além de mostrar a maneira como o gênero feminino de um modo geral é exibido na mídia. O intuito principal da oficina foi provocar os espectadores e dessa forma ajudar a construir uma nova “abordagem”, livrando-se de preconceitos e estereótipos.
O workshop fazia parte das comemorações do Dia Internacional da Mulher (dia 8 de março) e contou com palestrantes: Denise Motta Dau, secretária de Políticas públicas para mulheres no estado de São Paulo; Roseli Fígaro, professora de Comunicação da USP; Rachel Moreno, Psicóloga especialista em Sexualidade Humana, fundadora do Observatório da Mulher; e Bianca Santana, jornalista especialista em educação e cultura digital, professora do curso de Jornalismo da Faculdade Cásper Líbero e idealizadora da Casa de Lua.
A secretária de Políticas públicas para mulheres no estado de São Paulo iniciou o evento falando sobre a posição da mulher na sociedade e o trabalho que começa a ser desenvolvido por sua secretaria, com menos de um ano de existência. Denise relacionou a imagem e preconceito que a mulher-jornalista sofre na profissão e o papel da mulher na sociedade como um todo: “toda discriminação que a mulher vive no mundo do trabalho, como um todo, se reflete no jornalismo”.
Já Roseli Fígaro criticou o modelo da Sociedade que nós mesmos criamos, que segundo ela é um “modelo excludente, discriminatório”. A professora destacou também o papel da mulher na mídia, tanto nos telejornais quanto na propaganda que reafirma o estereótipo: “brancas, lindas, jovens, sem filhos”.
Alguns dados da pesquisa da educadora apontaram para uma preocupação do jornalista com o anunciante maior do que com o chefe de redação ou a opinião pública, o que chamou de “valores do consumidor”, o que vende o jornal. Na sua opinião isto ocorre porque o jornalista, tanto o homem quanto a mulher, não tem uma visão crítica da sua rotina de trabalho e sobretudo da importância de seu trabalho para a sociedade.
De positivo apontou o aumento do nível educacional da mulher-jornalista, que busca melhorar suas condições de trabalho fazendo Pós-Graduação e cursos no Sindicato, não se conformando com a situação profissional do jornalismo atual, no qual, apesar de ser composto majoritariamente por mulheres, ainda oferecem para elas baixos salários, condições precárias e na maior parte das vezes sendo subordinadas.
Rachel Moreno destacou o valor da mulher, sobretudo a mulher-jornalista e a mulher-professora, que possuem o que chamou de “poder multiplicador”. A psicóloga comentou a propaganda do Governo Estadual sobre o Metrô, vinculada recentemente pela Rádio Transamérica, no qual o personagem afirma que o metrô lotado é “bom para xavecar a mulherada”. Raquel comparou a afirmação com o hábito que os antigos romanos tinham de atirar cristãos na arena com leões para divertir o público.
Outro ponto abordado por Raquel foi sobre os reais problemas enfrentados pela mulher atualmente, tal como a dupla jornada: ser uma boa profissional no trabalho e uma excelente mãe e esposa em casa. “Isso não é abordado pela mídia”, ressalta. Esta mesma mídia, segundo a psicóloga, não serve para democratizar e sim formar a opinião do povo, contrariando o propósito original de “dar voz à população”.
Apontou também que a mídia, seja televisiva, impressa, radiofônica, de modo geral, contribui não apenas para reafirmar o preconceito em relação à mulher, quanto ao seu papel “invisível”. “Invisibilidade da mulher na mídia”. A mulher, de fato, exercendo seu papel, não sendo a mulher dos comerciais de cerveja ou a dona de casa dos comerciais de produtos de limpeza. Apontou também que embora a mulher esteja estudando mais e querendo mais qualificação bate no chamado “teto de vidro”: não consegue galgar altos postos nas empresas, mesmo que seja tão qualificada quanto um homem.
A jornalista Bianca Santana concluiu a palestra, pouco antes de abrir para perguntas, destacando os principais pontos que as colegas trataram durante o evento, falando um pouco mais sobre o preconceito, sobretudo nas grandes empresas jornalísticas.
Bianca disse que apesar de jovem, também sofre o preconceito, pois a consideram “muito jovem para ser professora”, além do fato de “ser negra”. Ela ressaltou também que faltam políticas públicas voltadas para a mulher e incentivou que as jornalistas mulheres presentes procurassem outro modelo, outra forma de fazer jornalismo, fora das grandes empresas, inclusive a Internet. E também adotassem a postura de “guerrilha”, não desistissem de lutar por espaço, salário, qualificações melhores, pois espera que as coisas um dia melhorem.
A proposta cumpriu seu papel e levou os participantes, em sua maioria, mulheres, a uma reflexão do que representa seu papel de jornalista e de que maneira podem ajudar a mudar a forma como vêem e são vistas no jornalismo. No entanto, é apenas um passo para uma real mudança de posição na sociedade, pois segundo as palestrantes pode-se perceber que, embora se fale que a mulher é maioria e que já conquistou seu espaço em todos os setores, “o modelo machista e patriarcal, com o qual a sociedade atual foi construída não mudou”. A mulher continua recebendo menos, trabalhando igual, e sendo dona de casa, cozinhando, lavando, passando, sendo mãe e educadora. Tudo ao mesmo tempo.
Por Gisely de Oliveira, Alessandra Küster e Emílio Coutinho.
[…] Fonte: Casa dos Focas […]
Adorei o conteúdo!!
Sou estudante de jornalismo e estou fazendo um trabalho exatamente sobre esse assunto e me ajudou muito.
Aproveitando o gancho para pedir ajuda (rs), alguma jornalista-mulher que trabalhe em qualquer area ou função que possa nos ajudar… Por favor entre em contato comigo para fazermos algumas perguntas sobre a ocupação feminina na comunicação. Vai me ajudar tanto!! Obrigada e desculpe a divulgação.
Olá, Beatriz!
Tudo bem? Envie o seu contato ou me adicione no facebook que eu lhe passo alguns contatos que tenho (inclusive de uma das palestrantes).
Até mais!
Emílio Coutinho