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Jornalistas debatem as mudanças no mercado de trabalho

Fábio Pereira é professor do programa de pós-graduação em comunicação da Universidade de Brasília (UnB). Foto: Emílio Coutinho
Fábio Pereira é professor do programa de pós-graduação em comunicação da Universidade de Brasília (UnB). Foto: Emílio Coutinho

Na última quarta-feira, 14 de outubro, o curso de jornalismo da FIAM FAAM (Faculdades Integradas Alcântara Machado) promoveu um debate sobre “Jornalismo e Mercado de Trabalho”. O evento contou com a presença dos professores Fábio Henrique Pereira (UnB) e Roseli Figaro (USP).

O professor Fábio Pereira começou o debate tratando sobre as mudanças na carreira profissional do jornalista nos últimos 30 anos. Segundo ele as mudanças tecnológicas e o crescimento do mercado de assessoria alteraram o sistema de carreira no jornalismo.

O papel da universidade

Para o professor Fábio Pereira, há uma diferença na avaliação das experiências vividas na faculdade de acordo com a idade do jornalista. “Até os 30 anos o jornalista desce a lenha, diz que a universidade não prestou para nada, que não aprendeu nada na faculdade e que tudo o que aprendeu foi nos estágios. Já os jornalistas com mais de 30 normalmente dizem ter aprendido muito na faculdade.”

“A minha explicação que ele dá para isso, é que quando se entra nos primeiros empregos o chefe diz: ‘Esqueça tudo o que você aprendeu na faculdade! É aqui que você vai aprender de verdade’. E aí, para agradar o chefe, o empregado começa a reproduzir esse discurso para todo mundo que encontra. “Na verdade há uma socialização para se desfazer da faculdade, até mesmo para se afirmar na redação. Depois dos 30 anos o jornalista não tem mais que provar nada a ninguém, e ele reconhece que de fato aprendeu na faculdade e no mercado. Nesse momento ele começa a mudar esse discuso de relativização da faculdade.”

Mobilidade no jornalismo

Sobre os motivos pelos quais os jornalistas mudam muito de emprego, o professor Fábio enumerou os principais. Segundo ele, os mais jovens normalmente mudam de emprego porque querem aprender, procurando experiências em plataformas e veículos diferentes.

Há também os que veem na mudança de emprego uma forma de valorização profissional. Isso porque muitos jornais gostam de contratar jornalistas que possuam passagens por diferentes empresas.

Outros jornalistas sentem nas mudanças de emprego uma valorização financeira. Devido ao fato de poucas empresas jornalísticas possuírem um plano de carreira, quando o jornalista quer um aumento de salário ele muitas vezes vai atrás de um outro emprego que ofereça essa quantia maior.

A chamada gestão das incertezas é um outro fator para essas mudanças. Como o mercado de trabalho jornalístico é muito incerto, pois vira e mexe tem passaralho, o profissional se antecipa a isso e muda de emprego.

Por fim, existe o fato do jornalista se ver como um profissional autônomo, e sem propriamente se engajar com uma empresa, acaba saindo para explorar novos territórios.

Roseli Figaro é professora do programa de pós-graduação em ciências da comunicação da Universidade de São Paulo (USP) e coordenadora do Centro de Pesquisa em Comunicação e Trabalho (CPCT). Foto: Emílio Coutinho
Roseli Figaro é professora do programa de pós-graduação em ciências da comunicação da Universidade de São Paulo (USP) e coordenadora do Centro de Pesquisa em Comunicação e Trabalho (CPCT). Foto: Emílio Coutinho

Oligopólios midiáticos

O debate continuou com a apresentação feita pela professora Roseli Figaro, no qual ela tratou sobre como os oligopólios midiáticos podem ser perigosos para a sociedade.

Na opinião da educadora, a precarização atual do trabalho do jornalista tem relação direta com os oligopólios de mídia, pois “essas grandes empresas, que formam grupos econômicos muito fortes, tomam decisões de implantação de novas tecnologias ou de processos de trabalho que diminuem, por exemplo, o número de vagas para os jornalistas, ou então precarizam as formas de relação de vínculo trabalhista desses profissionais novos”.

Fazendo relações

A docente ressaltou que o jornalista deve saber fazer relações de fatos, os colhendo e selecionando diariamente, pois é através deles que se constrói as narrativas nas quais o jornalismo explica o mundo à sociedade.

“A primeira coisa que devemos verificar para saber se uma determinada pessoa está apta a fazer jornalismo ou não, ou para saber se um jornalista está sendo bem informado ou não, é verificar se ele sabe fazer relações. Se ele sabe escolher, selecionar e relacionar fatos. Pois nenhuma narrativa se constitui sem fazer relações”, afirmou.

Para Roseli Figaro, o jornalismo é uma narrativa da modernidade que ajuda a construir os estados democráticos e se ele deixar de fazer isso, deixa de ser jornalismo. Além disso, o jornalismo é o discurso que apresenta de forma organizada uma narrativa sobre o mundo, a partir de vários aspectos, de vários temas, de várias áreas. “Deveria trazer também sobre vários pontos de vista, mas aí as linhas editoriais de vários órgãos da imprensa acreditam que os seus pontos de vista são mais importantes do que os da sociedade, impondo os seus pontos de vista de uma maneira bem persuasiva.”

Ainda segundo ela, “a população está precisando receber informações de outras fontes, um pouco mais democráticas, que apontem diferentes pontos de vista e que façam um jornalismo mais democrático”. “Vocês tem grande potencial para ajudar o país nessa linha”, disse.

Concluindo seu discurso, a professora da USP explicou que o chamado “Pensamento Crítico” é saber selecionar e relacionar, tendo em vista esse discurso da construção de uma sociedade democrática e respeito aos direitos dos cidadãos. “Nós devemos garantir uma narrativa com diferentes pontos de vista, uma apuração séria, mostrar fatos que nem sempre são do interesse desses grandes grupos econômicos. Se nós tivéssemos essa máxima, rigorosamente cumprida, nós estaríamos fazendo um bom jornalismo”.

Ao final do evento, o microfone foi aberto para que os alunos presentes pudessem fazer perguntas aos palestrantes.

Por Emílio Portugal Coutinho

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Emílio Coutinho
Emílio Coutinho
O jornalista, professor universitário e escritor Emílio Coutinho criou a Casa dos Focas em 2012 com o objetivo de oferecer um espaço para o ensino, a reflexão, o debate e divulgação de temas ligados ao jornalismo e à comunicação em geral.
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