Se você está aqui para encontrar respostas, sugiro que leia outro texto. Nesse artigo, há mais perguntas do que soluções. Mas, vale a pena lê-lo se você quiser entender um pouco mais do desafio que temos pela frente.
O jornalismo enfrenta crises desde que surgiu na sociedade. De tempos em tempos, nossa profissão é colocada contra a parede e temos que encontrar um jeito para continuar existindo. Com a internet, uma nuvem cinza parece ter povoado as redações. O que pode ser uma ferramente incrível também pode ser a ruína da profissão. O mundo digital mudou a forma de consumir informação. As produções, os conteúdos e o próprio público passou por um update. E o jornalista, que não recebeu nenhum manual de instruções, está quebrando a cabeça nessa realidade.
Tudo muda, principalmente, porque o público mudou. Os leitores, que antes precisavam enviar cartas, deixaram de ser apenas receptores passivos. Transformaram-se em atores capazes de produzir conteúdos, comentar a própria visão de mundo e agir como curadores de conteúdo. Enquanto você lê essa meia dúzia de linhas, por exemplo, centenas de milhares de emails e tweets rodaram o mundo.
Se o público tomou a função do jornalista, o que resta para nós? Lidar com os webatores mexe com o ego do jornalista, que sempre se viu no papel de detentor exclusivo da informação. Hoje, está tudo aí para todos. E mal há tempo para a apuração quando o que importa mais é a velocidade da publicação. Quem publica primeiro consegue mais cliques, cliques geram publicidade e nós já conhecemos o resto da história.
O nosso desafio é aprender esse novo “fazer jornalismo” sem perder a essência de informar com qualidade. Pode parecer que ter todos esses usuários produzindo conteúdo seja, de fato, o fim da carreira. No entanto, o livro ‘A explosão do jornalismo’, de Ignacio Ramonet, aponta que os internautas preferem fontes confiáveis. Dos 200 sites mais procurados nos Estados Unidos, 67% são mídias tradicionais. E é aí que surge a oportunidade. Mesmo no infinito de dados que circulam pelo mundo digital, temos o que há de mais essencial ao jornalista: credibilidade.
Se soubermos aliar as ferramentas digitais com a confiança do público em nossa palavra, podemos estar diante de uma fase de ouro da profissão. Outro aspecto fundamental é que não cabe mais ao profissional apenas saber escrever. Cada vez mais, as redações precisam de jornalistas multitarefeiros. Nos Estados Unidos, entre os anos de 2008 e 2010, 25 mil jornalistas foram demitidos. O que não significa que o trabalho diminuiu, pelo contrário. Então, você já deve imaginar a sobrecarga nos ombros dos que ficaram.
Entender a interatividade também é um fator crucial para que o novo jornalista se dê bem no espaço cibernético. Como já foi dito antes, o público, além de se identificar com a notícia, quer ajudar a construí-la. O jornalista, se entender essa demanda, pode brilhar como mediador da interatividade.
Outras consequências
A internet provocou uma mudança drástica nos grandes veículos. Jornais impressos renomados ficaram obsoletos e simplesmente deixaram de existir. Segundo o livro “A explosão do jornalismo”, 120 jornais impressos americanos desapareceram. Os que sobrevivem, aos trancos e barrancos, enfrentam sérias crises financeiras. Isso acontece porque seus leitores pagos migraram para o mundo digital, gratuito.
No último congresso da ANJ (Associação Nacional de Jornais), figurões dos maiores veículos de mídia no Brasil discutiram como segurar a publicidade que sempre foi um pilar essencial para a manutenção econômica do jornalismo. O maior argumento da reunião foi que os grandes veículos não devem estar presos apenas ao papel, afinal, a missão do jornalismo é informar independente de qual plataforma será usada.
A briga pela publicidade no entanto pode gerar outro problema. Na corrida pela audiência, cedemos à pressão das empresas que nos financiam e deixamos de lado a missão do jornalismo, por essência, independente e opositor. No livro, Ramonet cita exemplos de grandes empresários que compraram os veículos à beira da falência para usar sua credibilidade em favor de organizações empresariais.
Ainda sem direção definida, o que ninguém ousa negar é que o jornalismo está passando – como já o fez outras vezes – por um mundo completamente desconhecido. Caberá a nós, jornalistas desta geração que está surgindo, reinventar e adaptar a nossa profissão para que ela continue viva e essencial à sociedade.
Por Daniella Gemignani
Perfil da Autora
Daniella Gemignani está perto de ser jornalista. Estuda na ESPM-SP. Já atua na área há dois anos. É apaixonada por boas histórias e conta algumas no blog Encontros.