As eleições brasileiras não são mais as mesmas. O crescente acesso a internet por aparelhos móveis e o peso do Facebook ampliaram o espaço de debate sobre o perfil, a história, o currículo e o programa dos candidatos. Nem mesmo os debates na tevê aberta tem mais a mesma importância. Estes tendem a se resumir em shows de marketing e ataques pessoais. Diferentemente da rede onde o eleitor não é apenas um expectador, mas um agente que questiona o que não concorda, ou não sabe, e compartilha com sua rede particular. Para o bem, ou para o mal deste ou daquele candidato. É verdade que nas eleições proporcionais o efeito é menor, mas nos casos dos majoritários, a presença na rede é decisiva. Basta contar a quantidade de provocações que cada eleitor recebe, muitas vezes sem saber exatamente a sua origem. A explosão do uso político dos aplicativos pode ser medida pelo fluxo de textos, fotos e vídeos via WhatsApp e Instagram.
Os santinhos ficaram confinados ao chão próximo aos locais de votação. Distribuição mão a mão, só mesmo quando o candidato sai na rua para fazer campanha acompanhado de uma equipe de tevê. Assim mesmo, muitos recusam. Os santinhos passaram a ser eletrônicos graças ao barateamento do custo dos computadores, dos celulares ligados na rede e a popularização dos locais de acesso a internet. Hoje ele é possível nas escolas, bibliotecas, ONGs, e nas lan houses que disputam espaço nas periferias das cidades. Nestas o acesso é mais intenso do que nas áreas rurais. Mesmo o acompanhamento de transmissões de áudio e vídeo aumentaram. Os planejadores de campanha e marqueteiros de toda ordem tiveram que se reciclar a toda pressa para não serem atropelados pela mudança de comportamento do eleitorado. Ao mesmo tempo sabem com exatidão quantos, quem, onde e quem são os que se conectaram na campanha do candidato. Este não pode ser mais enganado como na época da campanha física quando o dinheiro saía para pagar material e cabos eleitorais.
O processo de convencimento e conquista do eleitorado não mudou no seu conteúdo. É o mesmo. O que mudou é a utilização das ferramentas digitais no processo de construção simbólica para ganhar a eleição. Contudo que ninguém se engane que os desenhos, luzes, pop ups, móveis ou não, sejam suficientes para se obter o apoio. É preciso que tudo isso seja entrelaçado por mensagens, uma causa, uma visão de mundo, um comprometimento público que capture o coração ou a mente dos eleitores. Se possível, os dois. O sucesso da campanha na rede vai além do número de impactos. O auge é que ele se transforme em um viral. Neste momento o receptor passa a ser ao mesmo tempo um emissor/compartilhador do candidato. Empresta a sua credibilidade pessoal ao material o que se torna um verdadeiro testemunhal. É como se estivesse dito, se não acreditar no candidato, acredite em mim. Esqueça o que falaram contra ele. Sou eu quem o recomenda. Enfim, as últimas eleições vão deixar como legado o debate se a utilização dos meios digitais aprofundaram ou não a democracia. Uma avaliação necessária para o futuro das campanhas e os rumos do Brasil.
Por Heródoto Barbeiro
Perfil de Heródoto Barbeiro
Heródoto Barbeiro é jornalista, âncora do Jornal da Record News e do R7, diariamente as 21h. Ex-apresentador do Roda Vida da TV Cultura e do Jornal da CBN. Autor de vários livros na área de treinamento, história, jornalismo e budismo.