Durante a nossa vida, seja no trabalho, na família ou na faculdade, nos deparamos com inúmeras questões éticas nas quais temos que escolher o melhor caminho a ser tomado. O grande problema é que, muitas vezes, a diferença entre o caminho certo e o errado é tênue demais.
Nessas horas o que conta é a preparação de cada um. Essa preparação costuma ser feita nos bancos de faculdade nas aulas de ética, nas quais, além de estudar sobre os princípios éticos e morais, somos apresentados a diversos casos nos quais os jornalistas tiveram verdadeiros dilemas éticos sobre como abordar um assunto.
Valores éticos no jornalismo
É importante sempre destacar que, além dos valores éticos, que são sempre universais, existem os que são próprios da profissão que cada um exerce. E com os jornalistas não é diferente. E é sobre isso que o jornalista e professor Rogério Christofoletti trata em seu livro “Ética no Jornalismo”.
A obra publicada pela editora Contexto é iniciada com a quebra de cinco mitos:
1 – o de que cada um tem a sua ética;
2 – o de que a ética é uma coisa abstrata;
3 – o de que a ética é uma só;
4 – o de que a ética é um assunto acadêmico;
5 – e o de que a ética se aprende na escola.
Diferença entre ética e moral
Termos como ética e moral são distinguidos de forma clara. A moral é “um conjunto de valores que orientam a conduta, as ações e os julgamentos humanos. (…) É com base em valores morais que fazemos escolhas sobre nossas condutas e atuamos diante de situações cotidianas”.
Já a ética é “aquilo que os homens fazem com a moral”. Essa mesma ética é dividida em duas dimensões: a individual, na qual são mobilizados os valores pessoais; e a social, na qual operam os valores que absorvemos dos grupos sociais que frequentamos. Muitas vezes temos que abandonar nosso juízo pessoal e optar por saídas orientadas pelos valores do coletivo.
Dilemas éticos no jornalismo: Caso Watergate e Caso Escola Base
Após apresentar a parte mais técnica da ética, Christofoletti apresenta dilemas éticos apresentados para os jornalistas que cobrem política, economia, cultura e polícia. Casos célebres do jornalismo são apresentados, tais como o Caso Watergate e o Caso Escola Base.
No primeiro caso, graças à sagacidade de dois repórteres (Bob Woodward e Carl Bernstein) e uma apuração bem feita, os jornalistas conseguiram a renúncia do presidente Richard Nixon, além de prestígio, dinheiro e uma série de prêmios. Já no segundo caso, ocorrido aqui no Brasil no ano de 1994, por uma série de erros, os diretores de uma escola infantil e seus funcionários foram linchados moralmente e quase fisicamente devido a publicação de denúncias de que as crianças que frequentavam essa escola eram vítimas de abuso sexual. As supostas evidências foram tratadas como provas e apesar de mais tarde o caso ter sido arquivado e os acusados inocentados, os personagens envolvidos nunca mais puderam voltar às suas vidas normais.
Códigos de ética do jornalismo: diferença entre as leis e as recomendações morais
Christofoletti dedica um capítulo inteiro para apresentar os diversos códigos de ética do jornalismo (da Associação Nacional dos Jornais (ANJ); da Associação Nacional dos Editores de Revistas (ANER); da Associação de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert); da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj); da Federação Internacional dos Jornalistas (FIJ); entre outros.
Ainda no capítulo sobre os códigos de ética do jornalismo, o autor faz a distinção entre as leis e as recomendações morais. As primeiras “provêm de um poder central, aplicam-se a todos de uma comunidade e prevêem punições aos que as desrespeitam”, já as segundas “são geradas na e pela comunidade a que se destina” e ao contrário das leis, “não são intimações ou obrigações, mas recomendações”, como o próprio nome já diz.
Mudanças tecnológicas pressupõem mudanças éticas?
As novas tecnologias também são lembradas no livro e com elas surge a indagação: as mudanças tecnológicas pressupõem mudanças éticas? Mas como em praticamente todo o livro, são apresentadas mais perguntas do que respostas. Dessa forma, Christofoletti pretende que o leitor reflita sobre as diversas situações que ele encontrará no exercício de sua profissão e a melhor maneira de se sair delas.
Ao final e durante todo o livro, o autor apresenta uma vasta quantidade de sugestões de leitura sobre o tema da ética. Dentre eles ressaltamos os títulos: “Jornalismo, ética e liberdade”, de Francisco José Karam; “Ética da informação”, de Daniel Cornu; “Sobre ética e imprensa”, de Eugênio Bucci; “Procura-se ética no jornalismo”, de H. Eugene Gooswin; e “Os elementos do jornalismo”, de Bill Kovach e Tom Rosenstiel.