Normalmente é assim: o apresentador chama a reportagem, mas o repórter só vai aparecer no meio ou no fim dela. Essa aparição do jornalista é conhecida como “Passagem” – um jargão do jornalismo de TV que identifica quando o repórter está “on” na matéria, ou seja, quando ele aparece falando diretamente com os telespectadores durante a reportagem gravada. A “Passagem” é a “assinatura” do repórter televisivo.
In loco
Geralmente as “Passagens” são produzidas no ambiente onde a reportagem acontece. Por exemplo: se a cobertura é sobre a campanha de vacinação infantil, então há grandes chances do repórter gravar sua “Passagem” na frente de algum posto de saúde ou dentro da sala de vacinação, com crianças sendo vacinadas ao fundo. Se o assunto for um assalto, o repórter pode gravar a “Passagem” onde o crime aconteceu ou na porta de uma delegacia. Isso contextualiza o que está sendo dito pelo jornalista e dá mais credibilidade na estória contada, já que mostra o repórter in loco, cobrindo o evento pessoalmente. Algumas vezes, as “Passagens” são em outros locais, fora distante de onde o assunto aconteceu, por uma série de razões entre elas a dificuldade de acessar o lugar exato.
Passagens padrão, participativa e plano-sequência
As “Passagens padrões” são aquelas em que o repórter aparece parado no vídeo, dizendo algo relevante sobre o assunto tratado – essas são as mais comuns. Existem as “Passagens participativas” em que o jornalista faz alguma ação que tenha a ver com a reportagem como, por exemplo, empurrar um carrinho de compras num supermercado enquanto fala do aumento de preços dos produtos ou doando sangue numa reportagem sobre estoque baixo de bolsas nos hemocentros. Isso sim que é dar o sangue pela matéria, hein?…rs. Outro estilo é o plano sequência, em que o repórter sai andando, falando, apontando e pegando em objetos – são passagens mais ágeis que mostram vários detalhes como, por exemplo, os estragos feitos depois de um incêndio, alagamento ou deslizamento de terra.
Aparência no vídeo
Alguns detalhes tornam a Passagem mais padronizada na TV brasileira como a roupa, cabelos e gestos. O jornalista precisa ter em mente que o que deve chamar a atenção quando ele aparece é a informação que está sendo passada, e não os brincos, cabelo, decote ou gravata do(a) repórter. Ser discreto e sem poluição visual no vídeo são as regras básicas. Gesticular demais também pode atrair a atenção para suas mãos. Faça isso com naturalidade, nos momentos certos, sem exagerar. Já o ambiente para “cenário” da Passagem também deve ser leve. Fuja de placas de trânsito, de propaganda e daquelas com muita informação escrita. Nessas horas o telespectador vai primeiro ler o que está escrito atrás de você para só depois ouvir o que você está dizendo, o que vai fazer seu público perder a informação dita por você, deixando sua Passagem ineficiente. Pessoas olhando para a câmera ou dando “tchauzinho” também desviam a atenção do telespectador. Se isso acontecer, regrave.
Microfones
A posição do microfone de mão geralmente levemente inclinada, a 4 dedos de distância da boca e, de preferência, abaixo do queixo e com a logo do telejornal ou da TV de frente para a câmera. Narre seu texto de forma natural, mesmo que o cinegrafista esteja a muitos metros de distância (o que capta sua voz é o microfone em suas mãos, e não a câmera em si). Em ambientes fechados, como consultórios ou escritórios, pode-se usar o microfone de lapela (aquele pequeno, pendurado na roupa), deixando as duas mãos livres para gestos ou para segurar objetos em “Passagens participativas”.
Errar é humano
O tempo é precioso para um jornalista e o deadline é cruel. Preste muita atenção ao seu texto da Passagem. Erros de concordância e pronúncia são graves! Se estiver na dúvida sobre qual palavra usar, pergunte a seu editor chefe. Pior que perder o cenário de uma Passagem é gravá-la errada. Uma dica é gravar mais de uma versão (se der tempo) e dar opções ao editor de texto e imagens.
Bom, explicar na prática é melhor que na teoria, então vou deixar aqui algumas de minhas Passagens.
Espero que ajude… (clique aqui para assistir)
Por Thiago Moraes
Perfil de Thiago Moraes
Repórter e apresentador de telejornais, Thiago Moraes (31) trabalha com jornalismo televisivo desde 1996, quando iniciou na área técnica (atrás das câmeras). Formou-se em jornalismo pelo UNIFAE, em 2005, na cidade natal (São João da Boa Vista-SP). Pós-graduado em Linguagens Midiáticas e pós-graduando em Jornalismo Econômico pela PUC-SP. Thiago Moraes é autor de mais de 3 mil reportagens televisivas e também escreve para o blog TELE BLOG NEWS – Bastidores do jornalismo em TV.