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Propaganda Jornalística?

O jornalismo na era da publicidade

É comum ouvir falar sobre o fim do jornal impresso. Com o avanço tecnológico, as palavras de tinta preta grafadas no papel acinzentado são substituídas por telas de computadores, tablets e celulares. Tudo é digital. Mas o que é o papel senão um suporte? O jornalismo envolve apuração, compromisso com a verdade, a objetividade e o interesse público. Sua função é colaborar com a formação da opinião pública. Esta essência independe de questões circunstanciais.

Mas e se até mesmo as premissas básicas do Jornalismo deixassem de ser levadas em conta? Isto não é só possível como já pode ser verificado, segundo o autor Leandro Marshall. No livro “O jornalismo na era da publicidade”, ele faz uma análise sobre a realidade dominada pelo capitalismo, na qual tudo é mercadoria, até mesmo a informação. Sendo assim, a linguagem publicitária é imposta aos veículos de comunicação, que se curvam às lógicas do mercado por questão de sobrevivência. Isso significa que as matérias dos jornais são manipuladas para se tornarem vendáveis, para não desagradar os anunciantes, para gerar lucro.

Se o que orienta o fazer jornalístico já não é o interesse público, a utilidade à sociedade, a ambição de conscientizar as pessoas, então não é jornalismo. Logo, pelo raciocínio de Marshall, o jornalismo caminha em direção à sepultura. Eu já ouvira falar sobre crise em relação à profissão escolhida, mas amo meu curso, amo a ideia de ser porta-voz da sociedade. Nunca pensei que aconteceria comigo, até ler o mencionado livro, recomendado pela faculdade.

Na mesma semana em que resolvi me dedicar a essa leitura, a Folha de São Paulo noticiou a criação do Estúdio Folha, um sistema de produção de conteúdo sob medida para os anunciantes, separado da redação. Trata-se de uma alternativa para sobreviver à crise e fechar as contas dos custos de produção. É conteúdo publicitário, mas produzido com técnicas jornalísticas, ou seja, mesclando as duas formas de comunicação e confirmando a teoria de Marshall.

Antônio Manuel Teixeira Mendes, diretor-superintendente do Grupo Folha, destacou que o novo núcleo é desvinculado da redação, mantendo sempre os princípios básicos do jornal, mas que utiliza o talento para produção de conteúdo para atender à demanda das marcas. Ironicamente, um artigo publicado no mesmo jornal, em 2013, escrito por Álvaro Pereira Júnior, criticava a iniciativa do The New York Times de produzir conteúdo patrocinado. Afirmava que a prática de conferir à propaganda técnicas de reportagem ameaçava o jornalismo de qualidade.

Sendo o Estúdio Folha independente da redação ou não, é triste pensar que o Jornalismo já não existe por si mesmo, precisa se doar ao mercado, assim como tudo no capitalismo. Para Ciro Marcondes Filho, “O jornalismo é ao mesmo tempo a voz de outros conglomerados econômicos ou grupos políticos que querem dar às suas opiniões subjetivas e particulares o foro de objetividade” (Marcondes Filho, 1989,p.11).

Para agravar a minha crise, num trabalho para a faculdade, um grupo visitou a redação da Carta Capital. Os integrantes, que a princípio tinham boas expectativas em relação à visita, voltaram desencorajados: “Desistam do Jornalismo, ele está morrendo”, ouviram do editor. Nem mesmo os profissionais dos veículos de comunicação tem esperança em relação ao que fazem.

Aqui confesso minha desmotivação inicial, mas consegui transformá-la em algo positivo. Conversei com alguns professores sobre isso. Alguns, infelizmente, concordam com o editor. Outros, porém, me aconselharam a ter esperança. Fica a meu critério decidir que conselho vou seguir.

No entanto, sei que o jornalismo nasceu como palco do debate público, instrumento de denúncia. Como um dos meus professores disse, o sistema capitalista não é saudável para a humanidade. Se algo está errado com a forma como vivemos, cabe ao jornalista denunciar tal realidade, ampliar o debate sobre ela, e não se conformar, submetendo-se ao mercado. Por isso, decidi ser a exceção. Decidi me empenhar para libertar o meu jornalismo das amarras do capital, impedindo sua morte.

Reitero que disse meu jornalismo. Não posso falar pelos outros, não posso garantir que se libertem do pragmatismo por um ideal. Mas eu decidi ter esperança, pois acredito na profissão que escolhi.

Por Nathália Galvão Pereira.

Perfil da autora

Nathália Galvão Pereira

Estudante de Jornalismo na PUC-Campinas, Nathália é sonhadora até demais, nada pragmática, apaixonada por palavras, literatura e, é claro, Jornalismo.

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