InícioHistória do jornalismoBreve diagnóstico da variação histórica dos modelos jornalísticos na imprensa brasileira

Breve diagnóstico da variação histórica dos modelos jornalísticos na imprensa brasileira

(Foto: Pixabay)
(Foto: Pixabay)

Início da imprensa no Brasil

A história da imprensa brasileira é marcada por uma série de percalços que refletem até hoje no modelo atual de jornalismo empregado nas redações. Recém-chegada às terras incipientes do Sul americano junto à Coroa Portuguesa, em 1808, a imprensa nascente tinha como fim atender aos interesses propagandistas da metrópole, com publicações informativas e produções que visavam alimentar o gosto trivial da nobreza pela arte e cultura.

A população nativa desconhecia o código linguístico escrito, e sua comunicação oral era bastante heterogênea, por conta da variedade de dialetos aqui usados. A incorporação da mão-de-obra escrava negra nos empreendimentos da colônia aumentou a variável linguística. Contudo, a pluralidade de “línguas” – e a possibilidade de letrar os dois povos no idioma Português – não significou um problema a ser solucionado, já que ambos não constituíam “público-alvo” da Corte.

Não era intenção da imprensa luso-brasileira contemplar nativos e escravos. Tanto a alfabetização quanto a educação destes povos não constavam nos planos dos portugueses, que tinham como objetivo apenas o uso de sua força de trabalho. Isto faz crer que Portugal não desejava formar uma nação culta, bem-informada e apta a questionamentos. Explicado, portanto, o motivo de o Brasil ser “um dos últimos países das Américas a contar com o funcionamento da imprensa.” (MELO, 2006, p.77).

Consequências de um início conturbado

Naturalmente, o resultado de um começo segregado, que restringe o acesso à informação a grupos reduzidos e privilegiados, em detrimento de uma massa operária ignorante (e ignorada), é uma sociedade desacostumada ao uso da imprensa como meio de informação, reflexão e aquisição de conhecimento. “Como decorrência da natureza feitorial da colonização e do atraso das populações indígenas, a sociedade brasileira caracterizou-se pela predominância do analfabetismo, ausência de urbanização, precariedade da burocracia estatal e insipiência das atividades comerciais e industriais.” (idem p.78).

Esta fisionomia aristocrática da imprensa brasileira ensaiou mudanças significativas somente a partir do século XX, quando as classes trabalhadoras passaram a enxergar seu potencial emancipatório.
Entretanto, conforme José Marques de Melo (2006, pp.87-8), fatores como: “incapacidade aquisitiva do povo brasileiro; ausência de participação política; linguagem inacessível; foco dos noticiários nos centros de poder político (Brasília), econômico (bolsas de valores) e cultural (grandes polos urbanos); descaso com os interesses do povo na periferia, e valorização dos interesses das classes dominantes” inviabilizam, ainda hoje, o acesso popular à imprensa.

Idealismo versus objetividade

O jornalismo brasileiro assume nuances diferentes de acordo com a época e as contingências que a própria época sugere, variando entre os modelos de publicação doutrinário, literário, ideológico (com destaque para as décadas de 1980 e 90) e, mais recentemente, objetivo-técnico-profissional. A demanda dos alternativos, por exemplo, relutantes ao esquema padronizado e homogeneizado da imprensa tradicional, povoou os períodos pré-ditadura e da ditadura, arrefecendo logo após.

“A grande imprensa se prendeu, durante o período da ditadura militar, mais a práticas oficiais, tendo raramente se engajado na crítica política, ao contrário da imprensa alternativa, cujo estilo jornalístico militante floresceu principalmente por causa do emprego do jornalismo ‘cão de guarda’ e da publicação de casos de abusos dos direitos humanos, assumindo um papel dissidente político em relação ao regime militar.” (MATOS, 2008, p.258 apud ABREU, 2001; KUCINSKI, 1991; WAISBORD, 2002).

Atualmente, o método jornalístico apropriou-se da identidade industrial pragmática. Empresas jornalísticas são “organizações que se mantêm com recursos provenientes da publicidade, mas que, diante das limitações do capitalismo periférico, não podem se dar ao luxo de dispensar os subsídios estatais.” (MELO, 2006, p.84). A notícia converteu-se em produto comercializável. Esta nova configuração faz com que as redações se assemelhem a linhas de montagem fordistas. Consequentemente, jornalistas se alinham à objetividade, à postura profissional e a técnicas que potencializem a apuração e produção noticiosa.

O desafio do jornalismo contemporâneo está em “equilibrar a qualidade do conteúdo e o acesso coletivo, gerando autossustentação e autonomia editorial.” (idem 2006, p.91). No entanto, “o capitalismo dependente que aqui se implantou produziu uma imprensa também dependente. Ela precisa manter bom relacionamento com o estado não apenas para ser contemplada com verbas publicitárias (e o estado é tradicionalmente um grande anunciante em nosso país), mas, sobretudo, para gozar de certos favores concedidos discricionariamente pelos detentores do poder político.” (idem p.85).

Resquícios da polarização política no modelo atual de jornalismo

Apesar de a imprensa brasileira, havendo importado o modelo de produção jornalística norte-americano, prezar pela objetividade e imparcialidade, valendo-se de técnicas profissionais de apuração e redação, sua gênese ainda carrega traços da relação que ela estabeleceu com os poderes políticos.

Para Carolina Matos (2008, p.255), “a transformação que o jornalismo experimentou nos últimos anos, no entanto, não resultou numa ruptura total com a militância jornalística do passado. O jornalismo continuou a ser influenciado por diferentes interesses das organizações de mídia, bem como pelo ambiente político e econômico no qual estavam inseridos, permanecendo definido de forma ambígua”.

Neste sentido, a imprensa, em alguns casos, se vê impossibilitada de exercer seu papel de fiscalizadora, pois ela mesma está envolvida em certos esquemas corruptos nas esferas municipal, estadual e federal, seja por supostas “necessidades financeiras” ou por cinismo arbitrário. Automaticamente, sua abstenção implica num contrasserviço que lesa a nação e a impede de usar a informação como promotora da democracia, levando a crer que a função delatora do jornalismo investigativo comprometido com o bem-comum sempre foi cara aos setores honestos da sociedade.

Por Felipe Melo

Perfil do Autor

Felipe Melo

Felipe Melo tem 23 anos. Atualmente, cursa o 5º período de Jornalismo no Centro Universitário de Patos de Minas (Unipam). Depois da sua casa, a biblioteca é o lugar mais frequentado por ele. Pretende trabalhar na área de Jornalismo Cultural, com ênfase no segmento literário. Tem a Filosofia como hobby.

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