Premiada na categoria Repórter de Rádio, na 13ª edição do Troféu Mulher Imprensa, a jornalista Basilia Rodrigues concedeu uma entrevista à Casa dos Focas, na qual contou um pouco sobre sua carreira. Basilia explicou que sua escolha pelo jornalismo ocorreu “porque eu gosto de falar, de escrever e contar histórias. Não pensei apenas no jornalismo, mas de um modo mais amplo a comunicação. A minha ideia sempre foi ter uma profissão em que eu pudesse usar o português e a capacidade de me expressar com as pessoas. Inclusive não era nem por meio do rádio, onde estou hoje”, contou a jornalista, que já está há dez anos na CBN Brasília.
Entre as barreiras e dificuldades encontradas ao logo da carreira, Basilia ressaltou a sensação de exclusão. “A maior dificuldade é, às vezes, não se sentir a vontade em um ambiente em que há presença de políticos e autoridades. Uma sensação de exclusão! Alguns repórteres estão mais próximos das fontes e outros não. E a gente sabe que quanto mais perto, maior a nossa capacidade de apurar uma informação imediata. De início me recordo dessa dificuldade, de ter uma resistência por parte das fontes, para dialogar com uma repórter até então desconhecida, com uma repórter que parecia não fazer parte daquele ambiente, por conta da cor e talvez por conta da origem periférica”, lamentou.
Hoje, depois de muita resistência e, principalmente, insistência, Basilia não se enxerga mais como um estranho no ninho. “Eu realmente me sinto parte da cobertura política e do judiciário de Brasília. Eu tive que mostrar trabalho. Costumo dizer que é passar o verniz. Eu saí da faculdade formada, sendo uma profissional habilitada para exercer a minha função como jornalista mas eu precisava de mais. Eu precisava mostrar a minha capacidade em entender os assuntos e, dialogar sobre diferentes temas. Verbalizar! Ainda mais no rádio… pegar o telefone e entrar rapidamente com a informação no ar. Acho que isso se tornou um diferencial na minha carreira”, complementou.
Tratando sobre jornalismo versus tecnologia, ela abriu um parêntese e disse acreditar que a internet pode ser usada como uma ferramenta para se fazer a boa comunicação, o bom jornalismo. “Não importa a mídia. Se você está inclinada para fazer um bom trabalho, vai fazer. De que adianta você entrar rapidamente no ar, ser o primeiro a publicar algo se a informação está errada, suscetível ou mal contada? A questão do imediatismo, da velocidade da informação é inegável, você consegue tudo muito rápido na internet, mas precisa estar pautado sempre na qualidade. Às vezes a gente se depara com situações e precisa criar regras para si, porque é muito melhor uma informação atrasada em minutos, do que ter errata, corrigida lá na frente. Mas isso é traço pessoal. Várias pessoas não concordam e você precisa explicar uma, duas vezes, todos os dias, que essa mesma imprensa que diz que segue a veracidade e a qualidade, acaba se rendendo ao prazer de ter mais cliques. É preciso uma mudança de consciência”.
Ao final da entrevista Basilia deixou um recado para todos os estudantes: “Eu acho que todo bom profissional precisa ter uma veia empreendedora. Desamarrar os nós existentes com essa mídia tradicional, das relações convencionais de trabalho. Tenha o seu blog, eu ouvia muito isso na época da minha faculdade e achava uma bobagem (risos). Abra o seu blog, escreva os seus textos autorais. Eu não me via nessa mídia blogueira, achava que era algo que eu não conseguiria disseminar tão fácil, tanto é que eu nunca tive um blog. Talvez na época da adolescência, mas um blog jornalístico não. No entanto, indo para as redes sociais, para as mídias, como os perfis do Facebook eu criei um espaço profissional. Uma página onde eu só posto matérias minhas, não são matérias, necessariamente, do dia, aquelas que você vai abrir em todas as páginas e jornais e enxergar o mesmo lead. Aí eu pensei, se eu nunca fui blogueira eu não vou competir com blogueiras, mas quero ter um espaço na internet. Interligo meu Facebook com o Twitter, e quando tenho algo novo, às vezes curiosidade, impressão ou informação mesmo, publico no Facebook e na sequência compartilho no Twitter. Resumindo, para quem está saindo agora da faculdade tem que encontrar a sua veia empreendedora. Antigamente a gente costumava dizer que um profissional que já está há algum tempo na carreira tem que ter um plano de saída, ou seja, já pensando lá na frente, se um dia ele for demitido ou se aposentar. Havia ali a expectativa de uma longa carreira, então ele teria que traçar um plano de saída mais à frente. Eu acho que essa trajetória está cada vez mais curta, em que você vai depender mais de você mesmo. Esquece o plano de saída de antigamente, comece a pensar agora em alternativas de tornar o seu conteúdo mais palatável, mais acessível para as pessoas e que não dependa somente do veículo onde você trabalha. E não é cuspindo no prato, mas tem que ter outras opções!”, concluiu.
Por Caroline Ferreira
Perfil da Autora
Caroline Ferreira, 23 anos. Feminista e estudante do 5º semestre de Jornalismo. Apaixonada pelas palavras, cordéis e literatura negra brasileira. Acredita que a comunicação pode ser uma lacuna quando o assunto são narrativas, ainda hoje, silenciadas pela mídia hegemônica.