Quantas e quantas vezes falamos sobre o fim do rádio? Centenas. Primeiro, sucumbiria à TV, depois à Internet, mas o rádio não só sobreviveu, como foi o meio para a criação de um mito: Ricardo Boechat. Não que antes ele já não fosse conhecido e reconhecido. Era, claro. Já havia, em 2005, ano de sua estreia na BandNews FM Rio, trafegado por quase todos os grandes veículos impressos brasileiros, além da TV Globo. No entanto, foi no bom e velho rádio em que ele foi alçado a melhor âncora do Brasil e a melhor amigo de enorme parcela de brasileiros. E isso não é pouco não.
Depois de uma saída conturbada do Grupo Globo, motivada pela divulgação – pela revista Veja – de conversas telefônicas grampeadas, Boechat passou por um período difícil: com pouca grana e precisando buscar formas de voltar a fazer o que sabia: notícia. A Band abriu a ele suas portas, mas o rádio escancarou as janelas. Ali, o estreante nos microfones entendeu rapidamente do que se fazia essa comunicação tão próxima: de gente, de autenticidade. E assim, ano a ano, foi crescendo e se consolidando um mito, um gigante. Ele, com maestria, acertou no tom, na forma, na mensagem. Acertou em ser próximo, em dar seu telefone, em falar com a voz do ouvinte e, dessa forma, dar ele a sua voz.
Se Boechat já era um jornalista rápido, com dois pés no brilhantismo, workaholic e cheio de fontes, o rádio deu a ele a possibilidade de entregar essa informação de forma a cativar desde os jovens ouvintes até os muito habituados a usar o rádio como fonte de informação desde sempre. Ele falava sobre os temas mais espinhosos com a riqueza de quem já tinha muita bagagem, com a indignação de quem ainda não estava anestesiado pelos acontecimentos, com a autenticidade de quem bate um papo com um amigo em meio a uma cerveja ou outra, um café e outro. E mais: com muita clareza e lucidez. Era a informação que todo mundo conseguia consumir e entender. Gostando dela ou não.
Boechat soube se reinventar e fez isso com tanta maestria que sua morte prematura deixa uma enormidade de pessoas meio sem rumo, afinal, quem vai explicar, com força para cobrar, tudo o que de estranho vem acontecendo por aqui? Com quem vamos dar risadas a caminho do trabalho, ouvindo os papos surreais com José Simão e aquelas gargalhadas contagiantes? Quem vai destoar do jornalismo pasteurizado, que anda com medo de falar o que deve e o que precisa, por causa da reação desmedida movida pela desinformação das redes sociais?
Nesses tempos de tanta desinformação mascarada de informação, nesses tempos tão difíceis para a nossa profissão, seu bom dia vai fazer falta, caro Boechat. Vamos que vamos!
Por Thaís Naldoni
Perfil da Autora
Thaís Naldoni é jornalista, pós-graduada em Direção Editorial pela ESPM e graduada pela Universidade Estadual Paulista (Unesp). Com passagens pela Folha Online e Sportv, também atuou como repórter e secretária de redação da Revista IMPRENSA. Foi editora-executiva do Portal IMPRENSA e apresentadora do programa “IMPRENSA na TV” de 2007 a 2010. Atuou também como coordenadora de comunicação corporativa do Terra Networks. Foi gerente de Jornalismo da IMPRENSA Editorial Ltda, responsável pelo conteúdo de revista mensal, site hardnews, com atualização diária, além da criação e execução de projetos especiais, bem como interface com o departamento comercial e ancoragem dos projetos em vídeo, criação, planejamento e coordenação dos canais em mídias sociais até agosto de 2016. Atualmente, produz e apresenta conteúdos para lives no Facebook, que trata de jornalismo, mídia e comunicação, e é coordenadora de Conteúdo da Comunicação Invitro.