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A maldição da maquinaria

Há sempre o temor que novas máquinas gerem desempregos. Pode ser uma impressora em 3D ou qualquer outro produto.
Há sempre o temor que novas máquinas gerem desempregos. Pode ser uma impressora em 3D ou qualquer outro produto.

Todos os dias os sites, agora a maior parte das pessoas se informam por eles, apregoam uma nova tecnologia, uma nova invenção. São tantas que é difícil acompanhar, a não ser aquelas que mexem com o trabalho que fazemos. Afinal uma nova descoberta pode acabar com o nosso emprego. Quando inventaram o elevador automático os ascensoristas foram dispensados. Há quem se preocupe com essa escalada da tecnologia associada ao desenvolvimento do capitalismo contemporâneo, cuja expressão é a globalização. As novas máquinas são moedoras de posto de trabalho, incentivadoras do ganho de produtividade e dos lucros dos grande conglomerados econômicos. As mudanças vão de um novo ferramental em uma indústria ao robô montador de veículos ou a capsula de café expresso que ameaça o barista mais famoso. Até onde vai a nova economia com essa destruição de emprego, renda e poder aquisitivo que ela mesma precisa para sobreviver?

Há um debate que vem desde os primórdios da Revolução Industrial que a máquina cria emprego. E não desemprego. E há fatos históricos curiosos. Um dos pais da teoria econômica liberal, Adam Smith, conta um caso no clássico Riqueza das Nações. Uma máquina chega em uma indústria de alfinetes. Um operário não treinado é capaz de fazer um único alfinete por dia. Contudo, quando aprende a operar a máquina, se especializa e põe em prática a divisão do trabalho as coisas mudam. Altamente gabaritado pode produzir 4.800 alfinetes por dia. Obviamente o mercado não crescia na mesma rapidez que a produção de alfinetes. Graças a essa máquina muitos operários foram demitidos, perderam salários, e não poderiam comprar alfinetes. A não ser que se empregassem em uma outra indústria nascente, como a de confecção de roupas, por exemplo. Apareceram muitos mais empregos do que os perdidos. No final do século XVIII a Revolução Industrial estava apenas na infância. A questão é que ela está sempre na infância uma vez que novas invenções aparecem todos os dias e a reorganização do trabalho desorganiza a anterior, cria desemprego e conflitos sociais. É uma infância eterna.

Há sempre o temor que novas máquinas gerem desempregos. Pode ser uma impressora em 3D, que é capaz produzir auto peças em oficinas de manutenção de carros, ou qualquer outro produto. Ou uma máquina de tecer algodão. Apesar de uma invenção estar 250 anos distantes uma da outra o efeito é o mesmo. Quando Arkwright inventou a máquina de tecer as fiandeiras e tecelões puseram as barbas de molho. Depois de 27 anos houve um aumento de empregos na tecelagem britânica de 4.400 por cento. As reações contra a maquinaria também são atemporais. Podem ser uma greve para obrigar uma empresa de caminhões não demitir funcionários, mesmo que as vendas caiam. Ou do sindicato dos eletricistas de Nova York que, na década de 1940, recusava-se a instalar equipamentos elétricos fabricados fora do estado. Ao menos que fossem desmontados e montados novamente no local onde seriam instalados. Este debate faz o livro do jornalista Henry Hazlitt (Economia Numa Única Lição) muito atual, ainda que ele tenha opiniões apaixonadas sobre temas como este.

Por Heródoto Barbeiro

Perfil de Heródoto Barbeiro

Heródoto Barbeiro

Heródoto Barbeiro é jornalista, âncora do Jornal da Record News e do R7, diariamente as 21h. Ex-apresentador do Roda Vida da TV Cultura e do Jornal da CBN. Autor de vários livros na área de treinamento, história, jornalismo e budismo.

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