Nas salas de aula muito se fala sobre imparcialidade. A teoria é interessante. A prática, nem tanto. Manipular informações, fomentar ondas de denuncismo barato e divulgar até mesmo mentiras passaram a ser uma constante. E o que é pior: sem punição alguma.
A grande mídia dissemina uma cultura de marginalização de movimentos sociais de todo o tipo, abordando tais temáticas com certa carga de preconceitos. São inúmeras formas de tratar um tema que soam de maneira nociva, e fazem com que a informação chegue ao público carregada de um juízo de valor o qual não deveria ter.
Movimentos pela moradia, dos Sem-Terra e demais grupos, são continuamente atacados pela grande mídia justamente porque esta defende os interesses dos dominadores, deixando de lado as necessidades dos dominados.
Antônio Gramsci, no livro Cadernos do Cárcere explica sua teoria sobre a hegemonia. Para ele, essa hegemonia só é capaz de se estabelecer porque há as leis (Direito) e o Estado e uma ideologia (que é a moral, a política, a religião) que legitimam as formas com que as classes dominantes manobram os mais pobres, submetendo-os aos interesses de seus dominadores. Tudo é arquitetado de forma que a massa nem perceba o principal: o interesse que defendem é um interesse burguês e não do povo.
Um exemplo histórico é a Revolução Constitucionalista de 1932, quando houve a Campanha de Doação de Ouro. Toda a população de São Paulo doou o pouco que tinha do nobre metal para financiar as tropas paulistas. O que aconteceu foi que um bloco hegemônico – o dos paulistas, produtores de café – estava descontente com o gaúcho Vargas no poder e queriam retomar seu espaço na política. Afinal, até então vivíamos na República do Café com Leite, onde os eleitos ou eram de Minas Gerais ou de São Paulo. Fez-se então a campanha, supostamente em prol de um bem coletivo: a democracia. No entanto, a intenção nada mais era do que satisfazer interesses particulares de uma ínfima camada socioeconômica.
Sutilmente – ou até de forma descarada – podemos encontrar essa mesma conduta em alguns veículos de comunicação que assumidamente apoiam a direita conservadora do país.
Não é errado tender a um lado. Gramsci afirmava que “Viver é tomar partido”. Porém, é nefasto intitular-se imparcial quando a prática é bem outra. Tornar pública a postura político-ideológica da empresa comunicacional, creio, seja a saída. Aí os leitores / ouvintes / internautas / telespectadores poderão escolher qual meio mais os apetece. O que não dá é vestir o manto sacrossanto da neutralidade e enfiar goela abaixo pré-conceitos imbuídos de uma intencionalidade criminosa.
Por essas e outras que faz-se necessária a discussão a respeito da regulamentação dos meios de comunicação de massa no Brasil. Muitos deles estiveram a serviço da ditadura militar durante os tenebrosos anos de chumbo. Não é justo ver a deturpação do jornalismo. Afinal, este deve tão somente ter um compromisso social com a verdade dos fatos. Nada mais.
Por Viviane Cabrera.
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Perfil de Viviane Cabrera
Viviane Cabrera é jornalista recém-formada pelas Faculdades Integradas Alcântara Machado (FIAM FAAM), autora do livro reportagem Flores do Asfalto – Histórias de duas favelas paulistanas, e possui um blog literário chamado *Brainstorm*.