Não é de hoje que rumores sobre a possível extinção do jornal impresso circulam entre os adeptos do papel e os profissionais da comunicação. Antes da Internet se popularizar no Brasil, a partir de 1994, o meio impresso era um forte páreo à TV e ao rádio, aos quais, inclusive, precedeu com competência reconhecida.
Leitores tradicionais mantêm o convívio com o jornal impresso até hoje. Mesmo já inseridos no contexto digital, eles ainda prezam pelas letras estampadas, pela visita à banca, pelo folhear as páginas, pelas informações que se misturam ao cheiro do café da manhã. Saudosismo que tem suas raízes nas tradições de uma geração acostumada a apalpar a notícia, com atenção e sem correria.
Para Marlon Wender, 37 anos, jornalista e professor do Centro Universitário de Patos de Minas – Unipam, “é possível, até certo ponto, relacionar o jornal impresso ao disco de vinil. Comercialmente falando, o disco está quase extinto. Mas algumas pessoas apreciadoras de música ainda o conservam. Com o impresso não deverá ser diferente. Ele conta com um público fiel que demorará a morrer: os baby boomers, educados a ler jornal principalmente aos domingos. Na minha época de faculdade só tínhamos o jornal impresso. Não havia Internet. Assim que os jornais chegavam íamos buscá-los. Ele continua sendo um veículo de credibilidade. Os jornalistas se formavam para trabalhar em Jornal Impresso. O papel é forte nos grandes centros como São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte. Atualmente, no interior, a Internet ocupa muito espaço e os portais de notícia prevalecem. Nas cidades pequenas o impresso funciona como agregado, um ‘puxadinho’ do Jornalismo”.
Hoje, a Internet é uma das ferramentas mais usadas como fonte de informação. Além da agilidade com que as notícias circulam na Web, sua atualização é instantânea, sem custo adicional e possui alcance mundial. A Rede também permite a convergência de diferentes mídias na divulgação dos fatos: texto, áudio, vídeo e imagem se unem para dar vida a um episódio. Quanto maior a variedade de recursos explorados na produção da notícia, mais chances ela terá de atrair o público.
Acrescente-se a este arsenal a interatividade. Com ela, o leitor deixou de ser agente passivo da notícia para participar ativamente da sua criação. Na impossibilidade de estar simultaneamente em todos os lugares onde fatos noticiáveis acontecem, o jornalista encontrou no leitor-ouvinte-telespectador-internauta um forte aliado.
Segundo Philip Meyer, em seu livro “Os Jornais Podem Desaparecer?: como salvar o jornalismo na era da informação”, “as novas tecnologias (…) mudam a natureza do público. O novo problema está no excesso de mensagens, que ultrapassa a capacidade do público de apreendê-las”.
A mobilidade e conectividade oferecidas por aparelhos portáteis como smartphones, celulares e tablets impuseram velocidade na captura e disseminação de todo tipo de conteúdo. Facilitadores que exigem fôlego e filtro dos jornalistas, que têm de se ajustar ao ritmo frenético crescente que a circulação de informações vem adquirindo.
Na mesma obra, Meyer destaca que “a criatividade, antigamente canalizada para a produção de mensagens inteligentes, graciosas e emocionantes, abriu-se de modo a englobar uma série de decisões. Os criativos mais importantes são aqueles capazes de analisar o problema de marketing como um todo e desenvolver uma estratégia para entregar a melhor combinação de ferramentas”.
Agora, o leitor, cada vez mais crítico e ávido por notícias atualizadas e de qualidade, oferece material ao veículo que ele mesmo acompanha, seja através do envio de fotos, vídeos ou da sua opinião sobre uma matéria publicada.
Kerlly Trigueiro, 19 anos, estudante de Ciências Contábeis, lê jornal impresso há mais de dez anos, influenciada pelo pai, leitor assíduo. Nativa da era “w.w.w.”, ela comentou sobre sua relação com as diferentes plataformas. “O jornal impresso me satisfaz porque tenho contato direto com ele. O digital tem algumas vantagens: não preciso sair de casa para comprá-lo, e posso acessá-lo via celular ou pelo computador. Mas segurar o papel faz com que eu me interesse mais pela leitura. Na Internet a conexão às vezes não é boa, e eu me distraio com outras coisas; já o impresso, leio com atenção e releio quando quiser. Infelizmente, talvez ele acabe devido às tecnologias que surgem a cada dia. As pessoas gastam seu tempo com celulares e outros aparelhos portáteis; não reparam nas bancas de jornal e revista quando passam por uma. Elas só prestam atenção no que tem nas mãos, não mais nas coisas ao seu redor.”
No livro “Jornalismo na Internet: planejamento e produção da informação online”, J. B. Pinho relaciona as diferentes configurações presentes nas formas de veiculação impressa e virtual. “O recente surgimento e desenvolvimento da atividade jornalística na Internet, como adverte o jornalista Leão Serva ‘ainda espera um conjunto de procedimentos que consolide as diversas novidades impostas pelas características dos novos meios e, ao mesmo tempo, aponte aquilo que, por ser essencial à atividade jornalística, permanecerá nestes novos meios’. A entrada de jornais e revistas na Internet inaugura um novo veículo de comunicação que reúne características de todas as outras mídias e que tem como suporte as redes mundiais de computadores. O jornalismo digital representa uma revolução no modelo de produção e distribuição das notícias. O papel (átomos) vai cedendo lugar a impulsos eletrônicos (bits) que podem viajar a grandes velocidades pelas autoestradas da informação. Esses bits podem ser atualizados instantaneamente na tela do computador na forma de recursos multimídia que estão ampliando as possibilidades da mídia impressa.”
Pâmella Cristina Gurgel, 21 anos, estudante de Ciências Biológicas, prefere a plataforma virtual para se manter atualizada. “Não leio jornal impresso. Uso a Internet quando quero me informar. Gosto de buscar notícias online porque elas oferecem links com assuntos semelhantes e mais conteúdo. Além da praticidade, vou direto ao assunto do meu interesse, sem ter de procurá-lo em cadernos, ou sair de casa para ir a uma banca. O jornal digital conserva os recursos naturais, evitando acúmulo de papel em casa. Não acredito que o impresso vá acabar. Algumas pessoas, mesmo as familiarizadas à Internet, ainda preferem o papel.”
Juarez Bahia, autor de “Jornal, história e técnica: as técnicas do jornalismo”, acredita que “na competição com a televisão, o rádio e outros meios eletrônicos, os jornais e revistas buscam ser mais úteis nas suas relações com a sociedade, acompanhar a mudança de interesses, preferências, gostos, hábitos e níveis educacional e cultural do público, aperfeiçoar a sua qualidade reciclando-se continuamente”.
Rafaela Resende, 24 anos, publicitária e professora do Unipam, acredita na redescoberta do impresso e no seu potencial propagandístico. “Tanto o jornal quanto a revista não acabarão. A comunicação impressa voltada para o Jornalismo não tem fim. Ela passa por adaptações e se modifica, atenta aos interesses do público e às novas manifestações culturais e sociais. A propaganda sente as adaptações do impresso e também ela se ajusta. A TV oferece estímulos precisos através de áudio, imagem e movimento. O rádio instiga a imaginação. O impresso narra. Nele, não há uma comunicação instantânea como na TV e no rádio; mas há a possibilidade da interpretação particular. No anúncio em jornal é preciso colocar-se no lugar do leitor, falar a sua linguagem, desenvolver uma redação precisa e escolher componentes estimulantes para as matérias. Desse modo, ganha-se a atenção do leitor.”
O jornal impresso busca constantemente estratégias para sobreviver: textos mais próximos do discurso corriqueiro; clareza e objetividade nas redações; diagramação moderna; uso de imagens, infográficos e foto-legendas. Tudo a fim de combinar a identidade estabelecida pela tradição do papel às urgências do presente.
Não dá ter certeza de que o jornal impresso desaparecerá ou não. Provavelmente não. A história das mídias mostra que nenhuma suplantou a outra. Pelo contrário, todas encontraram sua parcela assídua de público. As mídias se reinventam e assimilam novos métodos para manterem-se ativas, credíveis e influentes; aprendem uma com a outra, combinam-se e tiram proveito do melhor que cada uma tem a oferecer. Meyer reforça que “a credibilidade não é o único componente da influência, mas é um bom ponto de partida”.
Recorrendo mais uma vez a Bahia, “bons jornais e revistas seduzem os leitores e criam raízes de fidelidade que permanecem por gerações e gerações. A ruptura do vínculo pode ser explicada de várias maneiras, mas é mais comum quando um veículo demonstra incapacidade para acompanhar a evolução da sociedade. Nesse caso, a decadência é fatal”.
Texto produzido pelos focas: Elorrane Caroline, Isabella Cristina e Felipe Melo.Os três são alunos do 3º Período de Jornalismo da Unipam.
Perfil dos Autores
Elorrane Caroline, 19 anos, estudante do 3º período de Jornalismo no Centro Universitário de Patos de Minas – Unipam. Apreciadora de bons livros e amante de animais, principalmente cachorros. Pretende atuar na TV e no Rádio. Estudar Teatro também é uma pretensão sua.
Isabella Cristina, 18 anos, estudante do 3º período de Jornalismo no Centro Universitário de Patos de Minas – Unipam. Acredita que o Jornalismo é capaz de transformar as pessoas. É apaixonada por séries, música, livros e filmes. Está sempre antenada nas novidades relacionadas a estas áreas.
Felipe Melo, 22 anos, estudante do 3º período de Jornalismo no Centro Universitário de Patos de Minas – Unipam. Depois da sua casa, a biblioteca é o lugar mais frequentado por ele. Pretende trabalhar na área de Jornalismo Cultural, com ênfase no segmento literário. Tem a Filosofia como hobby.
Artigo maravilhoso! Os meninos arrasaram.
A história se repete. No passado a fotografia iria acabar com a pintura e o desenho, depois o cinema iria enterrar o teatro, rádio iria acabar com o advento da televisão, com a televisão e suas novelas e filmes iram acabar com o teatro e com o cinema. Agora, já faz um tempo, o mundo virtual irá acabar com o jornal impresso. E assim, assistimos há anos todos estes meios permanecerem vivos. A única forma de acabar com eles é a má gerencia e falta de adequação ao mercado. O resto, fica no campo das teses e suas especulações.
Concordo com você, Ricardo Lou. 😉
Parabéns pelo texto! Já tive um jornal regional, porém os custos de impressão e distribuição não compensavam manter o negócio que não tem previsão de crescimento. Aposto que os portais de notícias ainda precisam melhorar já que são um caminho mais promissor no jornalismo escrito.
Os amantes da leitura nunca vão largar os impressos, é horrível fazer leitura longa em aparelhos, livros, revista e jornais, imagina uma pessoa que gosta de carregar um livro para ler em ônibus por exemplo, via digital a bateria acaba rápido. A maioria das pessoas só lê as noticiais principais, quem compra jornal degusta ele todo.
Concordo com você, Fábio. Mas esse debate ainda está longe do fim.