Sê imparcial. O conselho foi escrito por Voltaire em um ensaio publicado em 1737. Continua o genial filósofo, “tens ciência e gosto; se além disso fores justo, predigo-te um sucesso duradouro. (Martins Fontes, 2006). Tudo pode entrar na tua espécie de jornal, mesmo uma canção bem feita, nada desdenhes.” Certamente Voltaire, se vivesse nos dias atuais, estaria dando esses mesmos conselhos para qualquer das plataformas das novas mídias. “Acima de tudo, ao expôr opiniões, apoiando-as ou combatendo-as, evita palavras injuriosas que irritam um autor, e muitas vezes toda uma nação, sem esclarecer ninguém. Exclui animosidade e ironia.” Ele poderia falar de tudo isso a inúmeros blogueiros e internautas que ainda não entenderam que democracia é respeitar a opinião do outro. Ao invés de debater ideias, desclassificam os oponentes. Prossegue Voltaire: “inspira sobretudo aos jovens mais gosto pela história dos tempos recentes”.
“Com grande atualidade, lembra, que é preciso evitar, sem dúvida, seguir o exemplos de alguns escritores periódicos, que procuram rebaixar todos os seus contemporâneos e desestimular as artes, das quais um jornalista deve ser o sustentáculo. Não excluas ninguém. Uma linguagem obscura e grotesca não é sinônimo de simplicidade: é rematada grosseria”. Certamente não estava se referindo aos talk shows pseudo jornalísticos que exploram a desgraça humana, não respeitam vítimas e exploram a dor alheia. Punem vítimas, publicam sem acurácia e atingem a honra de inocentes. Não consideram o princípio da presunção da inocência, e todos são culpados até provar o contrário. Os erros e exageros são varridos para debaixo do tapete e ficarão lá até que o público exija que tudo seja colocado à luz do dia. Prossegue Voltaire: “o jornalista deve saber pelo menos duas línguas, uma delas o inglês. Pode ser italiano, foram eles os primeiros a tirar as artes da barbárie”.
“Nunca empregues uma palavra nova, diz Voltaire, a não ser que ela tenha estas três qualidades: ser necessária, inteligível e sonora”. Observa que os homens que melhor pensaram foram também os que melhor escreveram. “A única forma de nos instruirmos sobre os fatos é confrontar os autores que deles falaram”. Obviamente que seus conselhos precisam ser contextualizados historicamente. É o caso da crença liberal que é possível ser imparcial. Seus conselhos não chegaram a busca da isenção, ainda que deixam subentendido a importância da ética e o respeito aos direitos humanos. Para concluir: “Meu ofício é dizer o que penso. Que importa que eu não tenha um cetro? Tenho uma pena…” ou acrescento eu, um teclado.
Por Heródoto Barbeiro
Perfil de Heródoto Barbeiro
Heródoto Barbeiro é jornalista, âncora do Jornal da Record News e do R7, diariamente as 21h. Ex-apresentador do Roda Vida da TV Cultura e do Jornal da CBN. Autor de vários livros na área de treinamento, história, jornalismo e budismo.