No livro “Corta pra Mim”, o jornalista Marcelo Rezende, conta como foram produzidas algumas das grandes reportagens investigativas que realizou ao longo dos seus mais de 40 anos no jornalismo.
Jamais conseguirá ser jornalista
Aos 17 anos de idade, quando Marcelo tinha resolvido abandonar o curso de mecânica, foi convidado por seu primo Merival Júlio Lopes para trabalhar como repórter estagiário no Jornal dos Sports. Mas por uma série de fatores foi demitido no ano seguinte. O acontecimento foi relevante para a vida do futuro jornalista, que teve de ouvir do chefe de redação: “É melhor você ser mecânico, porque jornalista jamais vai conseguir ser.” Após essa admoestação, Marcelo se dedicou mais aos estudos e conseguiu um trabalho na Rádio Globo como rádio-escuta. Em 1972 foi convidado para trabalhar como repórter no jornal O Globo e aos 21 anos de idade atuou como redator no mesmo jornal. Contando com apenas 23 anos se tornou um dos principais repórteres esportivos do periódico.
Diferença entre impresso e telejornal
Em 1978 foi convidado para integrar a equipe da Revista Placar, onde ficou um bom tempo, até ser convidado para trabalhar na TV Globo, onde em 1988 se tornou editor do Globo Esporte. Foi ali que notou a diferença entre as duas plataformas midiáticas: Impresso e telejornalismo. “Em uma reportagem para a mídia impressa estão você, seu entrevistado (que é o centro de observação), um papel e uma caneta. Depois, você fica isolado em frente a um computador redigindo, e pronto. Já na televisão estão você, o operador, o cinegrafista, uma luz, um microfone na boca de um sujeito… É coisa demais para ser controlada ao mesmo tempo, além de intimidar!”
No final de 1989, Marcelo Rezende foi enviado para a Editoria Rio, onde faria matérias para os jornais locais e para o Jornal Nacional. Devido ao bom nível de seu trabalho, foi transferido para o Núcleo de Reportagens Especiais da TV Globo, onde começou a se “dedicar de verdade ao jornalismo investigativo”.
Condenado à prisão perpétua
Ao longo das mais de 200 páginas de sua obra, o jornalista narra os bastidores de 12 das principais reportagens investigativas que teve de realizar durante sua carreira na TV Globo.
Já no início do livro, fala sobre sua condenação à prisão perpétua no Paraguai e como conseguiu escapar da pena. Marcelo conta também a entrevista que fez com José Rainha, líder do ainda pouco conhecido Movimento dos Trabalhadores Sem Terra. Nesse trecho do livro além de contar como foi participar de uma invasão do MST, relata também o lado dos fazendeiros, que se armaram até os dentes preparando-se para um confronto. Percebendo que as duas partes estavam tentando chamar a sua atenção, Marcelo a seguinte decisão: “Descobriu, põe no ar. É o único jeito de ser respeitado por todos.”
Outra história narrada pelo jornalista é a da Favela Naval de Diadema, na qual policiais extorquiam dinheiro das pessoas, “atirando, ameaçando, espancando – e matando, eu descobriria depois…”. A reportagem, que explodiu no Brasil e no exterior, resultou na exoneração dos oficiais da PM responsáveis pela região e a condenação dos soldados envolvidos no crime a penas que iam de 23 a 10 anos de cadeia.
Conselhos para jornalistas novatos
Dentre os vários conselhos que Rezende dá aos leitores estão sobre como lidar com informantes. “É preciso saber a hora de dar uma dura. Se isso não for feito, ele começa a vender caro a ‘deduragem’, fica se divertindo com a sua cara.”
Outro conselho é: “se você não quer ter um chefe, mas quer ser empregado, apresente sugestões, propostas de trabalho – no caso do jornalismo, as suas pautas, antes que mandem você fazer o que não quer. Sempre usei a seguinte estratégia: quando estava terminando uma matéria, já começava a preparar a próxima, para ninguém me pedir para ir na esquina fazer algo besta. Sempre foi assim.”
Programa Linha Direta
Em outro momento do livro, Marcelo Rezende conta que por volta de 1998 a TV Globo começou a perder sua audiência para o Ratinho, que trocara a Record pelo SBT. Para recuperar os pontos no Ibope, a Globo resolveu criar uma nova edição do programa Linha Direta, fazendo uma mescla de dramaturgia e jornalismo. O novo Linha Direta mostraria a preparação do crime, o crime e depois a foto dos bandidos para que pudessem ser reconhecidos.
A primeira matéria para a nova edição do programa seria uma entrevista com Francisco de Assis Pereira, o Maníaco do Parque, preso no Presídio de Taubaté, no Vale do Paraíba (SP). Após conseguir todas as autorizações necessárias, Rezende entrevistou o Maníaco do Parque durante dois dias e meio. A matéria acabou indo para o Fantástico e rendeu 53 pontos de audiência.
Ainda para o programa Linha Direta, Rezende foi convidado a desvendar o mistério de como funciona a mente assassina. Para isso, resolveu entrevistar Pedro Rodrigues Filho, Pedrinho Matador, “que já cometera, reconhecidamente, 118 assassinatos, uma parte dentro do presídio onde passou e passa a maior parte dos seus 60 anos de vida”.
“De todas as reportagens que fiz, essa talvez tenha sido a que mais me fez sentir pressionado”, disse o jornalista sobre a matéria que fez sobre o desvio de dinheiro da CBF feito por Ricardo Teixeira, presidente da entidade. Fazendo com que o mesmo renunciasse o cargo em março de 2012.
Novo formato de programa de jornalismo policial
Após 23 anos trabalhando nas Organizações Globo, resolveu “conhecer o mundo lá fora”, e foi para a RedeTV! para apresentar o programa Repórter Cidadão, onde descobriu um formato de programa até então totalmente novo, um programa de operações policiais ao vivo.
“Tentei colocar na cabeça dos repórteres que eles deveriam se transformar em contadores de notícia, o que seria uma coisa completamente diferente. Afinal, quando você conta uma história, conta algo que você vivenciou ou que alguém lhe contou. Já o contador de notícia, que é um conceito que criei no programa, tem o factual, e, a partir do factual, ele conta a história.”
Em 2004 foi para a Record, onde assumiu o comando do Cidade Alerta, até então apresentado por José Luiz Datena, que foi para a TV Bandeirantes. No ano seguinte voltou para RedeTV! e três anos depois (2008) após permanecer por oito meses desempregado, foi contratado pela atual emissora, Rede Record.
Rezende termina o livro prometendo escrever em um futuro livro, um capítulo só sobre o Datena.
Por Emílio Portugal Coutinho.
O livro que revolucionou minha vida acadêmica e me fez uma grande jornalista.