Dilema Moral

Winston Churchill, ex-primeiro-ministro do Reino Unido.
Winston Churchill, ex-primeiro-ministro do Reino Unido.

Os britânicos também são bons em decodificar códigos secretos. Durante a Primeira Guerra Mundial interceptaram um telegrama do ministro alemão Zimmermann, para o embaixador da Alemanha no México. Continha uma proposta para o governo de Carranza. Uma aliança contra o bicho papão americano. Os Estados Unidos estavam prontos para entrar na guerra a favor da Grã Bretanha e aliados. Zimmerman dizia que os alemães poderiam ajudar os mexicanos com material militar para impedir que os americanos continuassem invadindo seu território atrás do líder revolucionário Pancho Villa. Com isso poderia retardar a entrada dos Estados Unidos no conflito, com o seu imenso potencial industrial. Os ingleses não tiveram dúvidas: publicaram a íntegra do telegrama. Uma tempestade arrebentou do outro lado do Atlântico e isso ajudou muito a decisão americana de declarar guerra contra a Alemanha. Decidiram o conflito. Durante a Segunda Guerra, os nazistas tinham um código secreto apelidado de Enigma. Através dele se comunicavam também com a frota poderosa de submarinos. Passavam as informações necessárias sobre localização dos navios e comboios aliados. Afundaram assim boa parte da frota inglesa envolvida no conflito. Certo dia, o serviço de inteligência britânico conseguiu decifrar o código. O caso, de grande importância militar e estratégica foi parar nas mãos do primeiro ministro Winston Churchill. Agora seria possível evitar que um grande comboio naval, a caminho da Grã Bretanha, fosse afundado pelos U boats nazistas. Seriam salvas muitas vidas. Contudo se os alemães soubessem da decifração do código, o trocariam imediatamente. E Churchill se viu diante de um dilema moral. Salvar os marinheiros do comboio ou continuar espionando as ações do inimigo e se preparando para salvar a vida de muito mais gente e quem sabe o seu próprio país. O que fazer?

No dia a dia do trabalho dos jornalistas situações semelhantes acontecem deixam-os em dilemas éticos. Um jornalista tem uma fonte que lhe passou um documento comprovadamente autêntico sobre o processo de corrupção na compra de uma plataforma de petróleo. Um negócio de mais de um bilhão e que rendeu milhões em propinas para empreiteiros e políticos. Até banco estaria por trás da maracutaia. Contudo a fonte garantiu que teria condições de, em algumas semanas, obter muito mais documentos do caso e repassaria para o jornalista usar na redação de sua reportagem. Inclusive com registros de conversas entre os envolvidos com isso a denúncia seria muito mais abrangente e contundente. O que fazer? Garantir a exclusividade da matéria, o conhecido furo jornalístico, e o seu próprio emprego? Correr o risco de ser “furado” por um concorrente? Confiar em uma fonte que deve ser algum desafeto dos acusados e pode mudar de opinião? Informar o chefe do dilema moral que se encontrava, ou manter segredo da exclusividade? Esperar para obter mais documentos e publicar uma reportagem que poderia decidir a sorte de corruptos que se locupletariam do dinheiro que falta no posto de saúde, na escola ou no transporte público? Esta é uma situação hipotética, mas já tirou o sono de muito jornalista.

E você fosse o jornalista o que faria? Se quiser pode me mandar uma mensagem sobre qual dessas alternativas optaria, ou uma outra de sua lavra. Mande no [email protected]. Em tempo, Churchill optou por manter sigilo da descoberta da decodificação do Enigma…

Por Heródoto Barbeiro

Perfil de Heródoto Barbeiro

Heródoto Barbeiro

Heródoto Barbeiro é jornalista, âncora do Jornal da Record News e do R7, diariamente as 21h. Ex-apresentador do Roda Vida da TV Cultura e do Jornal da CBN. Autor de vários livros na área de treinamento, história, jornalismo e budismo.

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