Rodrigo Craveiro é subeditor de Mundo do Correio Braziliense há 7 anos e meio. Ajuda na edição, e também faz matérias. Nesse tempo, produziu entrevistas exclusivas com vários laureados pelo Prêmio Nobel, com egípcios no dia da queda de Mubarak, com palestinos em meio ao bombardeio em Gaza (2010) e com os porta-vozes da Al-Qaeda e do Hamas, entre outros. Em 2011, entrevistou a liberiana Leymah Gboweh e a Tawakkul Karman, no dia em que ganharam o Nobel da Paz.
Casa dos Focas – Por que você escolheu o jornalismo?
Rodrigo Craveiro – Eu sempre gostei muito de escrever desde menino. Quando criança, brincava de apresentar telejornais e redigia pequenos folhetins com notícias do condomínio em que eu morava. E ali, o produto final da brincadeira de jornalismo era vendido a poucos centavos. Também me recordo que algumas notícias na TV mexiam profundamente comigo. Eu me lembro de acompanhar atentamente a cobertura da morte do ex-presidente Tancredo Neves, do peso da notícia proferida pelo então assessor e porta-voz oficial, Antônio Britto. Eu tinha apenas 9 anos à época. No contexto internacional, guardo a lembrança intensa do queda do Muro de Berlim, em 1989, e da dissolução da União Soviética e o consequente golpe no comunismo, dois anos atrás. Também tinha um gosto exacerbado pela poesia. Devorava livros do Carlos Drummond de Andrade e mantinha um caderno com 2 mil versos. Na escola, sempre apresentei uma predileção evidente por português. Enfim, não me via fazendo outra coisa que não fosse jornalismo.
CF – Quais foram as dificuldades que você encontrou até chegar ao cargo de jornalista internacional no Correio Brasiliense?
Rodrigo Craveiro – Não diria dificuldades. Acho que a principal questão aqui é ser capaz de formar um leque de fontes críveis e fidedignas e, sobretudo, preservá-las. Eu comecei no jornalismo internacional por volta do ano 2000. Antes, fiz algumas matérias internacionais para o site do jornal O Popular, para o qual eu trabalhava como subeditor.
CF – O que faz um jornalista internacional? Qual é a diferença dessa área com as outras? Você viaja muito?
Rodrigo Craveiro – Depende muito do cargo. Um editor ou um subeditor precisa ter a noção do peso da notícia, a fim de planejar a edição de forma hierárquica, sem comprometer o material ou sem desvalorizar determinado assunto. Um repórter deve saber buscar a fonte, construir o texto com a máxima clareza e precisão gramatical e ter conhecimento sobre o tema do qual é setorista. Um dos principais fantasmas do jornalismo diário é a chamada barriga — ou seja, tomar um furo do concorrente. Por isso, um repórter precisa ter em mente que é preciso checar agências internacionais de notícias, visitar sites noticiosos e confirmar dados com o entrevistado, a fim de que a informação mais importante não seja descartada ou menosprezada na redação do texto. Em quase 8 anos no Correio, tive a oportunidade de realizar algumas viagens profissionais interessantes, inclusive para as Filipinas, para Israel, para os Estados Unidos, para Cuba e para o Haiti. Nos dois últimos, atuei como enviado especial para a cobertura da visita da presidente Dilma Rousseff.
CF – Como um estudante pode se tornar um jornalista internacional? O que ele precisa saber? Quantos e quais idiomas?
Rodrigo Craveiro – Penso que o primeiro pré-requisito é gostar de temas internacionais ou de política externa. Outro ponto positivo é saber usar as redes sociais no benefício da profissão. O domínio dos idiomas inglês e espanhol é considerado básico para o exercício do jornalismo internacional.
CF – Para você qual é o grande nome do jornalismo atualmente? Por que?
Rodrigo Craveiro – Eu citaria alguns nomes, não somente um, para não cometer injustiças. Gosto muito do trabalho do Carlos de Lannoy, correspondente da Globo no Oriente Médio, do William Waack, do Samy Adghirni (único correspondente brasileiro em Teerã), entre outros.
CF – Como as novas mídias tem influenciado na produção de notícias e reportagens? Quais são os prós e contras que os profissionais da imprensa encontram ao utilizar as redes sociais em suas pautas?
Rodrigo Craveiro – As redes sociais são uma extraordinária ferramenta de apuração para o jornalista, na medida que o repórter mantém cautela e prudência em relação às fontes. Ante a óbvia constatação de que na internet qualquer pessoa pode criar uma identidade diferente, vale a pena checar os dados antes de considerar a fonte crível. Para isso, busco checar a timeline da fonte-alvo, pesquisar sua rede de amigos e me engajar numa primeira conversa com a mesma. Nesse bate-papo, tento aferir o grau de conhecimento da fonte sobre o assunto em questão. É fácil perceber simulação de conhecimento ou falácia. Também é possível usar as redes sociais, principalmente o microblog Twitter, para obter números de telefones de fontes que podem agregar credibilidade e detalhismo à matéria. No dia da queda do presidente egípcio, Hosni Mubarak, consegui os telefones de algumas pessoas presentes na Praça Tahrir, no centro do Cairo. Ao fundo, era possível ouvir os gritos de euforia dos revolucionários. Também pelo Twitter, obtive telefones de ativistas sírios e palestinos. E os entrevistei no momento em que a região em que moram era bombardeada.
CF – Qual foi a reportagem que mais lhe marcou e por que?
Rodrigo Craveiro – Eu citaria algumas, incluindo entrevistas exclusivas com laureados pelo Nobel da Paz, minutos depois do anúncio do prêmio. Outras reportagens marcantes foram a Guerra de Gaza (2008-2009), durante a qual conversei com moradores palestinos e flagrei o momento dos bombardeios, por meio do sistema de videoconferência do Skype. Durante a Guerra Israel-Líbano, em julho de 2006, acompanhei a fuga de brasileiros do Vale do Bekaa. Fiquei na Redação até 2h30 da manhã e conversei com eles por telefone, enquanto o ônibus abandonava a região. A entrevista com a ex-primeira-ministra do Paquistão Benazir Bhutto também foi marcante. Durante dias, insisti com Farhatullah Babar, o assessor de imprensa dela, para que agendasse entrevista por telefone. Benazir estava sitiada pelas tropas do país em sua casa, na cidade de Lahore. Acabei conversando com ela, por telefone, durante uns 15 minutos, em 2007. Cerca de um mês depois, ela foi morta num atentado suicida.
CF – Que conselho você dá aos que desejam trilhar as vias do jornalismo?
Rodrigo Craveiro – Em primeiro lugar, leia muito, seja curioso, vasculhe jornais, revistas e internet. Seja insistente e, às vezes, seja chato, sem ser antiético. Tenha sempre em mente que sua história precisa ter um quê a mais para o leitor, fuja dos padrões engessados do lead e busque uma apuração própria. Quando necessário, use as agências de notícias apenas como fio condutor de sua reportagem. Ouse. Domine pelo menos dois idiomas. Acredite sempre na pauta.
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