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Equilíbrio para informar

(Foto: Pixabay)
(Foto: Pixabay)

A pressa em informar é uma ótima serva, mas uma péssima senhora. Essa afirmação é inspirada no poema Bagavat Gita, contido no Mahabarata. Os jornalistas cuidam de publicar uma notícia só quando tem certeza que o fato ocorreu. Sabem que divulgar alguma coisa que não aconteceu é a mais constante pisada na bola do código de ética do jornalismo diário, hoje turbinado com a velocidade dos bits e bytes nas redes sociais. Os veículos temem que com a pressa podem perder a reputação, o capital mais importante das empresas no mundo contemporâneo, sejam elas de comunicação ou não. Nem Arjuna, nem Krishna poderiam imaginar que seus ensinamentos escritos no Século 4 a.C. poderiam ser tão atuais. Publicar só quando formar convicção sobre o fato. Fora disso é correr o risco de ter que desmentir o que foi divulgado ou varrer para debaixo do tapete o que resulta em perda da credibilidade.

Há outros ensinamentos da filosofia oriental que podem ajudar no trabalho do dia a dia do jornalista. Um deles é o mindfullness, ou seja, estar imbuído da boa Fé, compaixão, concentração e processamento cognitivo do mundo que está noticiando. Essa prática foi percorrida por Sidarta, o Buda. Em outras palavras mindfullness significa recordar-se continuamente do seu objeto de atenção. No caso do jornalista é a notícia. Um descuido e tudo se deteriora com imprecisão, confusão, mistura de fatos e finalmente a construção de uma informação sem fundamento para o público. O jornalista não pode descuidar um instante do seu trabalho. A prática da meditação colabora para que ele tenha sempre equilíbrio e possa tratar as notícias e seus personagens com moderação. Não fica afoito, não acusa sem provas, respeita a presunção da inocência e estuda o assunto antes de opinar. A meditação ajuda o bom jornalismo uma vez que desenvolve a habilidade de se prestar a máxima atenção aos fatos que acontecem no presente, sem julgá-los. Mindfullness é a experiência dos templos budistas que cuida da experiência do presente, não é uma solução mágica para os embates diários de um jornalista em busca da notícia inédita. É apenas mais um recurso no meio de tantos outros.

O ator do processo de informar é o jornalista. Tem compromisso com o público e por isso não pode trabalhar mindless, ou seja, desatento ao que se passa a sua volta. Mindless é o contrário do mindfullness. Pela importância social do seu trabalho tem que ter consciência plena do que está fazendo, e controlar as sensações prazerosas ou desagradáveis do seu trabalho. Graças a prática do mindfullnes da qual a meditação faz parte, é capaz de conter as suas frustrações pessoais e impedir que elas contaminem as notícias que divulga. A meditação oferece ao mesmo tempo a possibilidade de não se desligar da realidade dos fatos que divulga, e educa a mente para a concentração. Esta pode ainda reconhecer sensações e pensamentos e impede o mindfullnes que leva o jornalista a reprimir a ética, distorcer o que não sabe, e reforçar paradigmas bem estabelecidos em seu modelo mental e não ter consciência do que está fazendo. Com isso sofrem a busca da isenção, da ética e do compromisso com o interesse público. Esses ensinamentos são originários da prática da ética budista e podem ser aproveitados por todos independente da religião que professam.

Por Heródoto Barbeiro

Perfil de Heródoto Barbeiro

Heródoto Barbeiro

Heródoto Barbeiro é jornalista, âncora do Jornal da Record News e do R7, diariamente as 21h. Ex-apresentador do Roda Vida da TV Cultura e do Jornal da CBN. Autor de vários livros na área de treinamento, história, jornalismo e budismo.

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