InícioMestres ensinam“Esperiência em asseçoria de impressa”

“Esperiência em asseçoria de impressa”

A dificuldade para conseguir um estágio em jornalismo é uma reclamação recorrente que ouço dos alunos em sala de aula. Muitos estudantes colocam a culpa na exigência que o mercado faz de experiência na área (sendo que eles ainda estão na faculdade), no famoso QI (quem indica), entre outros fatores.

Não questiono a pertinência desses argumentos. É claro que eles contribuem para tornar mais difícil a disputa por uma vaga para praticar a profissão. Só que, na verdade, o que percebo é que esses não têm sido fatores decisivos para excluir um candidato de uma vaga. O desrespeito à nossa língua mãe, o português, é, muitas vezes, o verdadeiro “vilão”.

Falo não só como professora e jornalista, mas no papel de recrutadora, que já exerci em diversas ocasiões. O motivo para eu “deletar” logo de cara um candidato, antes mesmo de conhecê-lo, é encontrar no campo assunto do e-mail o título “Curriculo para o estagio”, sem acento nas palavras currículo e estágio; ou no corpo da mensagem ou do currículo encontrar algo como: “tenho esperiência em asseçoria de impressa”, em vez de tenho experiência em assessoria de imprensa. Esses não são exemplos inventados. São casos que tive o desprazer de presenciar…

Screen shot 2013-06-10 at 3.24.24 PM

Não sou especialista em Língua Portuguesa e confesso que ainda hoje tenho dificuldades com algumas questões da nossa gramática, mas uma coisa felizmente aprendi a ter: zelo, muuuuuito zelo com o português. Afinal, é a minha imagem que está por trás do que eu escrevo.

Isso quer dizer que, após fazer um texto, você deve revisar, revisar, revisar, revisar e revisar… quantas vezes puder! Consulte o dicionário, um professor, aquele seu amigo que escreve bem e domina a língua. E tem que ser aquele amigo crítico e sincero e não um que vai fingir que seu texto está maravilhoso para te agradar, sendo que ele traz um “derrepente” ou um “não tem nada haver”.

Jornalistas, mais do que qualquer outro profissional (à exceção dos professores de português, é claro), devem ter uma boa gramática e ortografia. Uma reportagem bem apurada, com diversas fontes e profunda pesquisa, pode perder toda sua credibilidade, por conta de um erro ortográfico.

Você pode falar inglês, espanhol, francês, ter feito dezenas de cursos na área e assistido a várias palestras interessantes sobre jornalismo. Pode ser uma pessoa criativa, proativa, inteligente, com ótimo relacionamento interpessoal. Mesmo assim, se deslizar no português em um e-mail ao empregador, certamente não será chamado para uma entrevista.

Essa dica é válida, inclusive, para as redes sociais, territórios nos quais os queridos focas acham que “tudo é permitido”. Cuidado, muito cuidado. Aquele simples post sobre o Timão ou o São Paulo que traz a pérola “Seu time é bom, mais o meu é melhor” (emprego de “mais” em vez de “mas”) pode deixá-lo com um péssimo conceito. Diversas reportagens e profissionais da área têm destacado que hoje as empresas utilizam o perfil do candidato no Twitter e/ou no Facebook como um dos fatores influenciadores na contratação. Portanto, isso não é exagero como muitos costumam pensar.

Screen shot 2013-06-10 at 3.29.26 PM

Se há a crítica dos alunos com relação à dificuldade para estagiar, há na mesma proporção o lamento de colegas jornalistas, que afirmam ser complicado selecionar um estagiário que tenha um texto bom, sem erros de português. No livro Mestres da Reportagem (produzido pelos meus alunos da FAPSP – Faculdade do Povo) muitos repórteres apontam o respeito à língua como um dos pré-requisitos essenciais de quem pretende ser um bom jornalista.

Portanto, não tenha preguiça de consultar a grafia correta de uma palavra e revisar os seus textos. A começar daqueles que você entrega para os seus professores no curso de Jornalismo. Lembre-se de que seus mestres serão os primeiros “recrutadores”, te recomendando ou não para vagas das quais eles têm conhecimento. Eles certamente não vão recomendar um aluno que tenha problemas com o português, pois é o nome deles (um nome que eles construíram durante muitos anos) que estará em jogo.

Eu costumo brincar com meus alunos: “Sejam neuróticos com o português!”. O mesmo vale para você que em breve ingressará na profissão. Baixe um corretor ortográfico e uma minigramática no celular, ande com um dicionário (que já esteja em conformidade com o novo acordo ortográfico) na bolsa. Se necessário, faça aulas particulares com uma boa professora de Língua Portuguesa, para combater seus pontos fracos. Seja humilde em admitir que nossa língua é complexa e precisa ser tratada com seriedade. Uma boa dose de neurose lhe fará muito bem. Pode ter certeza!

Por Patrícia Paixão

Perfil de Patrícia Paixão

Screen shot 2013-06-10 at 3.16.31 PM

Patrícia Paixão é jornalista, professora do curso de Jornalismo da FAPSP (Faculdade do Povo) e organizadora dos livros “Jornalismo Policial: Histórias de quem faz” e “Mestres da Reportagem”.

- Advertisement -
- Advertisement -
Siga-nos
17,516FãsCurtir
10,000SeguidoresSeguir
92SeguidoresSeguir
2,595SeguidoresSeguir
117InscritosInscrever
Leia também
- Advertisement -
Novidades
- Advertisement -

3 COMENTÁRIOS

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui