No dia 19 de agosto, a FAPCOM foi palco do I Fórum de Jornais de Bairro de São Paulo. O evento foi aberto com o painel “Caminhos e perspectivas para os jornais de bairro diante da transição digital”, ministrado pelo professor de Jornalismo da instituição, Wagner Belmonte e que reuniu o jornalista e pesquisador Caio Túlio Costa, o presidente do Jornal da Gente, Ubirajara Oliveira e o diretor executivo da Associação Brasileira de Anunciantes (ABA), Rafael Sampaio.
Jornalismo tradicional versus jornalismo digital
Dando início à discussão Caio Túlio Costa falou sobre um modelo de negócio para o jornalismo digital, tema de uma pesquisa realizada pela Universidade de Columbia e publicada no Brasil pela Revista de Jornalismo ESPM (nº. 9). O pesquisador apontou alguns problemas da questão digital como a diferença entre as cadeias de valores do jornalismo tradicional e do digital. “São completamente diferentes”, iniciou. “No jornalismo digital, o Publisher não domina 100% de seu conteúdo, como no impresso. Ele é distribuído por terceiros ou pelo próprio público, em redes sociais como o Twitter e Facebook”, explicou.
Outro problema apontado por Costa é a gestão do negócio: “Quem está no comando das redações ainda são jornalistas formados pelo jornalismo tradicional”. Para ele, as faculdades ainda têm dificuldades com a questão digital e continuam usando métodos tradicionais enquanto os alunos ingressantes apreendem o conteúdo de outras formas.
Entre outros, Caio também apontou o Facebook como um dos vilões do jornalismo digital. “Por que alguém vai querer pagar R$ 150 mil se, com centavos, pode atingir um público direcionado?”, questionou. Para finalizar, lembrou que o conteúdo deve ser adaptado para cada tipo de plataforma. “Não adianta copiar a fórmula ‘título-foto-texto’. Hoje você precisa estar onde o seu leitor está e atendê-lo como ele quer ser atendido”, concluiu.
A publicidade no jornalismo
Aproveitando a brecha sobre recursos financeiros, o presidente da ABA (Associação Brasileira de Anunciantes) Rafael Sampaio iniciou suas colocações no painel ao dizer que existe uma relação entre mídia e lucros publicitários quando a primeira tem uma capacidade de atender a maior quantidade de pessoas, o que gera uma maior audiência. Porém, ressaltou que essa fórmula hoje em dia só funciona em veículos televisivos, pois, com o avanço do digital, ninguém sabe qual é e se existe um novo modelo de relação das pessoas com as demais plataformas da notícia: como o impresso e o rádio.
Rafael também afirmou que os jornais de bairro não foram extintos pelo crescimento do online, pois “as pessoas querem saber o que acontece no entorno delas”. Para ele, o ser humano busca a todo momento informações macro e micro, sendo as últimas encontradas nesse tipo de informação impressa, voltada a um público específico de uma área também específica. Apesar das dificuldades financeiras, Sampaio acredita que o jornalismo impresso focado em notícias de bairro não perderá total espaço para o online. “Para isso é preciso ter uma simbiose entre o atendimento às marcas [publicitárias] e leitores”, diz.
Papel dos jornais de bairro
Já o presidente do Jornal da Gente, Ubirajara Oliveira, discorreu sobre os aspectos que dão as cidades a característica de multiplicidade. Sobre este viés, a mídia de maneira geral adota uma postura de pouco aprofundamento representativo, e, por conseguinte, acaba por não abordar o que as características específicas das cidades apresentam aos leitores e principalmente ao público como consumidor de cultura e entretenimento.
Para ele, é neste entrave que os jornais de bairro mostram-se vivos e prestativos à população: não apenas mostram para um número delimitado de leitores, moradores de um bairro, o que acontece ao seu redor, mas também oferecem a informação sobre os eventos de uma região específica, as realizações locais. Isto resulta em um conteúdo mais direcionado e aprofundado para que os bairros sejam caracterizados pelo detalhe do acontecimento, o que, consequentemente, representa desde os pormenores, até os grandes eventos que ocorrem nas cidades.
Múltiplas plataformas
Outro assunto presente no evento foi a velocidade da informação atual e as multipossibilidades que os negócios devem acatar para se manter em funcionalidade e eficácia nas áreas comunicativas. Em seu discurso, Ubirajara destacou a importância de pensar em comunicação contando com as suas diversas vias de atuação. Sendo assim, não se pode prezar apenas por opções digitais e nem tão pouco unicamente por meios físicos. De acordo com o jornalista, o mercado apresenta hoje dinâmicas assustadoras, fazendo com que negócios estejam sujeitos ao sucesso e à falência em curtíssimos espaços de tempo.
Contando um pouco sobre sua trajetória no jornalismo, o presidente do Jornal da Gente diz observar nos dias atuais “muita simplificação por parte das pessoas nas resoluções das problemáticas da comunicação”. Para ele, deve existir um cuidado quando se cria esta síntese de soluções para desmistificar os novos fenômenos da informação. É indispensável o pensamento de que diante de uma multiplicidade comunicativa, procuremos maneiras diversas e interligadas para lidar e gerir com os serviços informativos atuais.
Ubirajara acredita que, mesmo diante do cenário digital em plena ascensão, é muito importante a continuidade do contato com o produto da informação. Este fator deve servir tanto para a criterização do que será consumido pelo público, quanto para a eficácia persuasiva de quem oferece determinado serviço. Assim, os jornais de bairro se tornam e, principalmente, se mantêm caracterizados pela notória proximidade com os cidadãos, uma vez que trazem acontecimentos diretamente ligados ao cotidiano de seus leitores.
Por Felipe Sgura, Jayne Oliveira e Tatiane Gonsales.
Texto produzido pelos alunos do oitavo semestre matutino do curso de Jornalismo da FAPCOM, como exercício prático da disciplina Jornalismo Online. Publicado originalmente no Blog.FAPCOM.