Levanta pauta, procura personagem, escolhe fonte, realiza entrevista, digita matéria, revisa, edita, ilustra, publica e fim. Ufa! Agora repita esse processo três vezes por dia numa semana sem escala de folga. Já perdeu o fôlego só de imaginar tudo isso?
Como contar boas histórias, com um conteúdo atraente, instigante, gostoso de ler, detalhado e bem-feito? De onde tirar boas ideias de pautas?
“O extraordinário está atrás do ordinário”, afirmou o professor, escritor e jornalista, Edvaldo Pereira, durante uma palestra de jornalismo literário.
Geralmente os repórteres levantam suas pautas através de assuntos que consideram relevantes pelos mais variados motivos. Porém, uma pauta de jornalismo literário surge da curiosidade natural do próprio repórter. É feeling, é tato, é sensibilidade. Jornalistas não são robôs, são seres humanos que agem, pensam, sentem, percebem e falam. É por isso que as pautas surgem de um interesse pessoal. “Se você não se interessa pela história dos outros, dificilmente vai dar um bom jornalista”, é o que aconselhou uma vez o editor executivo e colunista da Revista Época, Ivan Martins.
Um dos maiores ícones atuais em termos de jornalismo literário no Brasil é a jornalista e escritora, Eliane Brum. Autora de diversas obras famosas, “a vida que ninguém vê”, recebeu o prêmio Jabuti de melhor livro-reportagem, em 2007. Esse livro permite ilustrar de uma forma categórica, as técnicas, o estilo da linguagem, a sensibilidade, a curiosidade, o ouvir e contar histórias de uma forma intensa e atraente. Eliane soube de modo peculiar observar aqueles que pareciam escondidos. Ouvir histórias daqueles que pareciam não ter nada a dizer. Trata-se de olhar não só para frente, mas para os lados e para atrás. Não de forma superficial, mas procurar o que passa despercebido por todos. Ver aquilo que ninguém consegue ver.
Diferente da produção cinematográfica ou mesmo na literatura, onde as narrativas são ficcionais, no jornalismo literário tudo é real, verdadeiro, sincero. Não existe aumento ou inversão de fatos. O que existe é uma riqueza de detalhes, um interesse genuíno pela vida das pessoas, uma sensibilidade aflorada. Pensamento, emoção e intuição.
Para o professor Edvaldo Pereira existem três formas básicas de se fazer isso:
1° – Informar de uma forma que qualquer assunto se torne universal. Ou seja, interessante para quem lê, de forma a focar sempre no ser humano.
2° – Entender as causas e motivos de determinada situação e levar ao receptor um significado mais amplo e profundo. Trata-se de fugir do lead tradicional e contar uma história com uma maior riqueza de detalhes. Deixando bem claro as causas e consequências.
3° – Esse que complementa os anteriores busca contar histórias da vida real. É uma necessidade social falar das pessoas de carne e osso. Humanizar determinado assunto é aproximar o conteúdo de quem o lê.
Nem só de textos grandes é feito o jornalismo literário, por vezes, ele pode estar ali escondidinho em uma pauta diferenciada que você sugeriu ao seu chefe, numa abordagem diferente na hora de fazer uma entrevista, nos detalhes que você resolveu contar ao escrever determinada matéria. Independentemente do veículo que estiver empregado, o jornalismo literário é autoral. Aperfeiçoa o talento, a sensibilidade, a curiosidade e a vocação em escrever boas histórias que você já tem. Para isso, você precisa deixar o clichê e a racionalidade de lado. Deixe sua mente voar, permita sentir seu coração bater. Procure por aquilo que está escondido. Não existem pessoas desinteressantes, não existem situações ordinárias. O que existe são fatos, pessoas e situações extraordinárias que estão bem ali, nos olhos que ninguém vê.
Por Regine Luise.
Perfil de Regine Luise
Ama, doa, sonha, dramatiza, sorri, chora e escreve. Não necessariamente nessa ordem. Jornalista por profissão, poeta de coração. Prazer, Regine Luise.
Contato: [email protected]
Adorei este texto! Me ajudou muito! Obrigada!