Casado com a também jornalista Sandra Annenberg, com quem tem três filhos, o repórter da Globo, Ernesto Paglia, foi solícito em responder algumas perguntas feitas pela Casa dos Focas.
Ernesto iniciou sua carreira no jornalismo trabalhando na Rádio Jovem Pan de São Paulo em 1979. No ano seguinte foi contratado pela Rede Globo como repórter, onde está há 34 anos.
Durante esse período na Globo, Ernesto Paglia participou de coberturas importantes tais como a visita do Papa João Paulo II ao Brasil e sete Copas do Mundo.
O jornalista trabalhou também em diversas equipes da Central Globo de Jornalismo, realizando várias reportagens e documentários. Dois projetos tiveram grande repercussão em sua carreira: o programa Globo Mar, que em outubro de 2013 rendeu à TV Globo a Menção Honrosa Marinha do Prêmio de Reportagem SOS Mata Atlântica/Conservação Internacional; e o JN no Ar, no qual fez a cobertura do primeiro turno das eleições presidenciais viajando em um jato por todos os estados do país. Esse último projeto está registrado no livro “O Diário de Bordo do JN no Ar – Cruzando o país numa cobertura histórica”.
Confira a entrevista completa:
Casa dos Focas – O que te levou a escolher o jornalismo por profissão?
Ernesto Paglia – É meio clássico, (risos) o meu pai era jornalista, então exemplos e vontade de ser igual ao pai, ou fazer melhor que o pai, basicamente isso.
CF – Em algum momento você já pensou em desistir do jornalismo?
Ernesto Paglia – Eu não! Imagina, eu não sei fazer mais nada da vida (risos). O jornalismo é uma profissão muito legal, que me deu muitas alegrias, me permitiu ter um padrão de vida confortável, me permitiu viajar pelo mundo, visitar mais de 60 países, conhecer gente, ter acesso a pessoas e ambientes que eu jamais poderia atingir em qualquer outra profissão, então eu acho que é uma profissão ideal para alguém como eu: um sujeito curioso.
CF – Qual o papel do jornalismo na sociedade?
Ernesto Paglia – O jornalista eu acho que ele tem o papel, como todo cidadão, de ser decente e fiel à verdade. Mas no nosso caso talvez isso seja ainda mais importante, mais marcante, porque nós somos porta-vozes, nós somos tradutores, intérpretes do sentimento popular, da realidade do país em que vivemos, do mundo que vivemos, então nossa responsabilidade aumenta. Então como profissionais, nós somos super-cidadãos, se se pode dizer assim. Nós somos cidadãos que tem o dobro, o triplo… nossa responsabilidade é multiplicada pelo número de telespectadores, ouvintes, leitores, internautas.
Eu acho que o nosso compromisso é ainda mais sério e deve ser ainda mais cuidado por nós mesmos. Certamente ele passa a todo momento pelo crivo, pelo julgamento, pelo jurado mais importante que é o público. Mas a gente tem que ter a responsabilidade excepcional de atender esse público de maneira honesta, transparente e verdadeira. Claro que cada um tem o seu ponto de vista, cada um tem o seu viés, também não acredito que nós consigamos ser totalmente isentos, mas eu acho que a gente tem a obrigação de lidar com a nossa opinião de uma forma transparente, deixar claro quando a gente está se colocando e quando a gente de alguma forma está dando o nosso ponto de vista. É uma obrigação nossa sermos transparentes e fugir do mito da imparcialidade a todo custo.
A gente também tem que eventualmente se posicionar diante das questões absolutas, aquelas que ferem a humanidade, ferem a dignidade da pessoa. Então a nossa missão é essa, sermos bons profissionais, bons cidadãos e exercer nossa cidadania desse ponto de vista e dessa trincheira privilegiada que é a imprensa, e que nos é facultada pela sociedade em que vivemos.
A liberdade de imprensa é o que nos dá o direito de estarmos nessa trincheira, nesse palco, nesse ponto de vista privilegiado.
CF – Como é para você fazer jornalismo e viver, na sua vida pessoal, com uma jornalista?
Ernesto Paglia – É mais fácil, talvez. A gente está dentro de casa, em um ambiente em que os compromissos, as necessidades, as exigências da profissão são mais bem compreendidas. A gente está no mesmo trabalho e inclusive na mesma empresa. Então a gente sabe muito bem compreender o que o outro está vivendo, eventualmente uma cobrança, uma necessidade de uma viagem, de um plantão, de trabalhar em um feriado, não que a gente goste, mas a gente entende um pouco melhor.
Então talvez isso, e contar com essa parceria. Poder falar sobre o dia a dia, trocar ideias, discutir, debater dentro de casa é muito mais simples, vamos dizer assim, é mais fácil, talvez. Eu nunca fui casado com ninguém que não fosse jornalista, então eu não sei como é. Mas para mim é muito agradável [viver com uma jornalista].
CF – Que conselho você deixa para nós focas que queremos nos tornar grandes jornalistas, como você e tantos outros?
Ernesto Paglia – Bom eu agradeço por me incluir nesse grupo, mas eu acho que o importante é a gente se manter muito bem informado, e ter a melhor formação possível, de todos os pontos de vista, para que nós possamos ser abrangentes e eventualmente profundos nas nossas abordagens.
É muito importante termos informações e formação sólidas na área de humanidades. Eu acho que nós devemos ter uma formação, uma leitura, uma bibliografia, um repertório intensos, extensos, de boa qualidade.
Eu gosto sempre de citar o José Hamilton Ribeiro, nosso colega que é um exemplo para todos nós, dono de mais de uma dúzia de prêmios Esso, ele que perdeu uma perna cobrindo a guerra do Vietnã, uma vez fez uma palestra para estudantes de jornalismo e uma jovem estudante perguntou: “José Hamilton, não te prejudicou, não é mais complicado para você ser repórter e jornalista com uma perna a menos?”. Ele respondeu: “Olha, ter uma perna a menos não atrapalha o jornalista, o problema é quando tem quatro” (risos). De uma forma bem humorada ele disse isso, “é preciso desemburrecer”. Nós precisamos estar muito bem preparados para enfrentar a grande gama, a infinita gama de desafios que estão aí para o repórter, para o editor, para todas as funções da nossa profissão.
Por Emílio Portugal Coutinho
Só aparece as fotos das pessoas de outra matéria, deveria aparecer desta também.
Olá, Edvaldo!
Tudo bem? Você quer dizer a foto do entrevistado?
Até mais!
Emílio Coutinho