Técnicas de apuração e uso das novas plataformas digitais durante a cobertura de manifestações. Esses foram os temas abordados na manhã da última terça-feira, 2 de julho, durante o encontro realizado na sede da Oboré – projetos especiais em comunicação e artes -, em São Paulo. O evento foi realizado pela Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), em parceria com a ONG Conectas e o projeto Narrativas Independentes, Jornalismo e Ação (Ninja).
O debate contou com Thiago Herdy (O Globo e Abraji), João Paulo Charleaux (coordenador da Conectas), Bruno Torturra (Ninja), Piero Locatelli (Carta Capital) e João Wainer (diretor da TV Folha). Os jornalistas abordaram a postura da imprensa durante os trabalhos relacionados aos atos que pararam ruas de grandes cidades brasileiras no decorrer das últimas semanas. O uso de tecnologias durante as reportagens serviu para discordância entre os palestrantes.
Desafios na era digital
Segundo Torturra, os veículos alternativos são complementares às mídias tradicionais porque os cidadãos multimídia fazem cobertura independente e divulgam informações nas redes sociais. Em alguns casos, as mídias tradicionais precisam repensar suas publicações. “As manifestações simbolizaram uma quebra de narrativa. Agora não tem mais aquela história de que manifestação para trânsito, por exemplo”, analisou.
O advento da internet trouxe novas ferramentas de trabalho, entretanto, Herdy disse que há limitações. “A bateria do celular acaba porque você fica 6, 7 horas na rua, e ainda tem que ligar, falar com a redação e passar a matéria que vai para o jornal no dia seguinte. Os grupos do Whatsapp [ aplicativo de mensagens para smartphones ], que foram criados depois da manifestação do dia 13, foram uma excelente ferramenta. Foi uma maneira de garantir que se acontecesse alguma coisa com você, 50 jornalistas já saberiam na mesma hora”.
Compromisso com a ética
A principal dificuldade da cobertura nas manifestações foi lidar com as mudanças que ocorrem em ritmo descompassado, comentou o Wainer. O diretor ressaltou que cabe ao profissional da imprensa ter responsabilidade com o trabalho. “Cada jornalista que foi para a rua tem a obrigação de pegar o seu material e editar com calma, porque isso que a gente está produzindo é um material histórico”, observou. “Daqui a 30 anos vão estar falando nisso ainda, como maio de 68, 11 de setembro”.
Segundo Herdy, ver os dois lados da história é essencial para o bom trabalho jornalístico, sobretudo em manifestações, onde os ânimos estão exaltados. “A polícia é fonte principal. Ver sempre os dois lados, desde o que eles pensam ao que eles sentem. Nossa função é relatar, e não defender uma posição”, concluiu o jornalista de O Globo.
Por Kelly Mantovani.
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Perfil de Kelly Mantovani
Pisciana, paulistana da gema e amante de bons livros. Estudante do terceiro semestre de Jornalismo na FIAM (Faculdades Integradas Alcântara Machado), atua como estagiária em Assessoria de Imprensa na Prefeitura de São Paulo e contribui com muito orgulho sugerindo pautas para a Casa dos Focas.