Se você não entender nada disso, não vai entender nada daquilo.
Escrever é uma manifestação de sentimentos. Os sentimentos não têm regras, logo, escrever também não tem regras (regras gramaticais à parte, claro…).
Escrever é se comunicar. Quanto melhor você escreve, melhor você se comunica. Ou, por outra, quanto melhor você se comunica, melhor você escreve. Uma coisa tem tudo a ver com a outra.
Se você fala bem vai escrever bem, na medida em que você escreva como fala. E se as pessoas gostam do jeito que você fala, procure escrever do jeito que você fala.
Escrevendo do jeito que você fala você vai ter um texto chamado de coloquial. Ou seja, vai estabelecer um colóquio, um bate-papo, coisa mais íntima. É isso que as pessoas gostam.
Os melhores textos são coloquiais. Coloquial é o texto de quem escreve como fala. Aí, a gente volta ao começo: procure escrever como você fala.
Texto de jornal é um pouco diferente do texto de revista. É mais impactante, mais rápido, mais direto, mais descompromissado, mais tete-a-tete, mais bate papo. Uma pessoa contando uma notícia pro outro. Coisa do tipo: “Cê viu o que aconteceu ontem?” O outro que não viu vai dizer que não e, curioso vai perguntar: “o que foi?” Aí você entra e fala. O cara vai estar prontinho para ouvir você. E quanto mais, melhor e com mais detalhes você contar, mais atenção vai chamar. Tudo isso acontece com você, e se acontece com você acontece com os outros.
Afinal, somos todos iguais, não somos? Mais ou menos…
Lembre-se sempre que a abertura do texto de jornal, as primeiras linhas, tem que ser impactante, tem que chamar a atenção, se não for assim não vai provocar vontade de ler, ninguém vai querer saber. Em outras palavras, a notícia que você quer transmitir tem que vir dada na primeira frase. Coisa do tipo: “Vai cair um toró amanhã.” – “Amanhã não tem metrô” – ou “Quem não tomar vacina morre” – ou “Um cara matou outro com dez tiros.” Ou mais forte ainda. O importante é deixar o leitor curioso com a sua informação.
Você dá a paulada e depois vai explicando. É o tal do Quem, quando, onde, como, o quê e porquê.
Pode começar com aspas? Claro que pode. Da mesma forma que pode começar sem aspas. Aspas é a fala de alguém. O alguém é o cara que vai dar a informação, ou o cara que é vítima, ou o cara que fez vítimas, ou o cara principal da história. A aspa geralmente é a fonte falando. A fonte é tudo para o jornalista. Jornalista que não tem fonte não tem história. A história é a fonte. O repórter não pode inventar nada, e nem conta nada, quem conta é a fonte. Quanto mais aspas você colocar, mais autêntica será sua história. Porque, repetindo, quem sabe das coisas é a fonte. O jornalista é apenas o repetidor, o contador da história. O personagem da história, insistindo, é a fonte. Quanto mais a fonte falar, mais o leitor vai acreditar.
Se o repórter é apenas o contador da história, não vale ele se meter na história. Então, não vale falar na primeira pessoa do singular, “eu vi”, como não vale falar na primeira pessoa do plural, “nós vimos”, “nosso país”, “nossa terra”, “nossa cidade”. Repórter não tem nada. Repórter fala das coisas dos outros. Ao invés de dizer “nosso país”, diga “o país”. E daí pra frente, tudo igual.
Use palavras comuns. Evite frescuras. Não fale “após”. Fale depois, que é como o povo fala. Não fale “algo”, fale “alguma coisa”. Porque normalmente, no seu papo comum com as pessoas, você não fala: “após isso eu vou embora…”, você fala: “depois disso eu vou embora…”, não é assim? Se é assim, que seja assim. Não invente, sem frescura… Você fala “algo” normalmente? Coisa como “eu vou beber algo..”. Não, você fala: “eu vou beber alguma coisa…”, certo?
Dia desses eu li a notícia: “…após ser preso…”, não seria mais fácil e direto dizer: “…depois de preso…”?
E por aí vai.
Reportagem não é novela ou filme em capítulos, quando a gente deixa a grande revelação pro fim. Se você escrever assim, o leitor não vai até o fim. Vá sempre direto ao ponto. Com criatividade, claro.
Se você quer emocionar, emocione-se. Em outras palavras: escreva chorando se você quiser provocar choro ou escreva rindo se você quiser provocar risos. Nunca seja falso. O leitor não é tão bobo quanto parece aos mais espertos como você. Esperto é o cara que se faz de bobo…
Por Professor Edgar de Oliveira Barros
Perfil de Edgar de Oliveira Barros
O professor Edgard de Oliveira Barros está há 40 anos no jornalismo, tendo iniciado sua carreira na redação dos Diários e Emissoras Associadas, a maior cadeia de jornais, emissoras de rádio e de televisão que o Brasil já teve.
É bacharel em Direito pela Universidade Mackenzie, foi repórter de jornais Associados, tendo trabalhado também nas extintas rádio Difusora e TV Tupi. No meio do caminho teve a Propaganda e Edgard trabalhou na MPM Propaganda, para depois fundar a sua própria empresa de publicidade, através da qual ganhou vários prêmios.
Durante 10 anos foi diretor de redação do extinto Diário Popular. Deixando o Diário Popular começou a dar aulas na FACOM/UniFIAM no ano de 1986.
Criou o jornal Imprensa Livre na cidade de Atibaia, com circulação regional. Semanário, o jornal passou a diário tendo inclusive implantado seu próprio parque gráfico com modernas rotativas. Trabalhava no mínimo 18 horas por dia e todos os dias. Cansou.
E faltou dinheiro. Parou o jornal e voltou a dar aulas, sua paixão, na FIAM. Publicou três livros de crônicas e um livro-manual de Jornalismo dedicado aos alunos da escola: Quem? Quando? Como? Onde? O quê? Por quê?.