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Aluno-periguete…

Nas salas de aula de hoje vira e mexe nos deparamos com o perfil aluno-periguete e/ou aluno-BBB (Big Brother Brasil). Sabe aquele cara que está fazendo Jornalismo para ter fama e ficar próximo do mundo das celebridades? Pois é, ele existe! Aliás, sempre existiu. Só que atualmente, com o modismo do “fim das ideologias” e do engajamento, esse pupilo parece ser mais comum do que na minha época de estudante. Poucos são os que hoje fazem Jornalismo para mudar o mundo, para lutar contra as injustiças sociais e outras bandeiras importantes, como víamos no passado. Eu e meus colegas de faculdade chegávamos a nos emocionar e até chorar em muitas aulas de História e Sociologia, ávidos por mudar o país. Isso hoje em dia é raaaaaro… Quando encontramos alunos que se emocionam, com brilhos nos olhos, temos que dar graças a Deus (rs). Normalmente você mostra um baita fato emocionante jornalisticamente falando e a maioria dos rostos reflete um grande: “Tá, e daí?”. Ou, então, você ouve as malditas frases: “Já passou a lista?” ou “Já fez a chamada?”.

Mas voltando ao aluno-periguete-bbb, ele é aquele que costuma detestar as aulas de Sociologia, Filosofia, História, enfim, as disciplinas teóricas. Não vê “utilidade” nenhuma nesses conhecimentos. Pra que estudar História do Brasil, saber o que é marxismo, conhecer Descartes? Em contrapartida, adora as aulas práticas, em especial as de TV e locução, nas quais pode exibir suas “caras e bocas”. Nada contra as aulas de TV (quando me formei na Universidade Metodista de São Paulo era uma das disciplinas que eu mais gostava. Aliás, a TV é uma mídia excelente para tratar temas seríssimos da nossa realidade, de forma mais impactante), mas a faculdade não pode ser só prática.

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Ele é fã de todos os jornalistas midiáticos, que estão na boca do povo por serem apresentadores de programas badalados na mídia, mas boceja quando você leva um texto de um repórter investigativo do interior ou de outro estado, de rosto desconhecido, mesmo que o cara tenha ganhado diversos prêmios Esso e Vladimir Herzog.

Foge de ler jornal e acha um saco qualquer debate mais profundo sobre a área. Você passa um filme eletrizante sobre a profissão, como Todos os Homens do Presidente, Capote ou Montanha dos Sete Abutres, e o “ser” lá babando e/ou navegando no celular/tablet.

Esse aluno é tão entediante quanto o tédio que ele demonstra com aquilo que está fora da indústria cultural. É raso, limitado e, com certeza, não vai ser um verdadeiro jornalista.

Afinal, como poderá ser se não se importa com as causas sociais? Se só pensa em pautas fúteis e superficiais e acha chato quando você propõe uma matéria que trate dos excluídos e de outras mazelas brasileiras? Como pode ser um bom jornalista se não sente paixão pela sua profissão? Não há como!

Como disse o “repórter do século” José Hamilton Ribeiro no livro Mestres da Reportagem (produzido pelos meus alunos de Jornalismo da FAPSP e por mim organizado), “a profissão de jornalista precisa ser exercida por alguém que acredite que seu trabalho pode melhorar o mundo” e “o repórter deve conquistar um conhecimento que permita saber um pouco sobre a angústia do ser humano”.

Portanto, pra ser jornalista de verdade, é preciso ter sensibilidade, ser crítico e idealista. Se você quer ser um grande jornalista, fuja de qualquer ataque de periguetismo.

É claro que nossa profissão acaba envolvendo um pouco de glamour e todo jornalista é vaidoso e gosta de ser reconhecido. Hipocrisia dizer que não. Mas a fama jamais deve ser o fim, o objetivo de se fazer Jornalismo, ainda mais em um país que apresenta tantos problemas políticos, econômicos e, especialmente, sociais, como o nosso.

Felizmente hoje estou em um momento lindo, com raros periguetes cruzando meu caminho, mas fica o alerta para todos que pretendem atuar nessa apaixonante e essencial profissão.

Por Patrícia Paixão.

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Perfil de Patrícia Paixão

Patrícia Paixão
Patrícia Paixão é jornalista, professora do curso de Jornalismo da FAPSP (Faculdade do Povo) e organizadora dos livros “Jornalismo Policial: Histórias de quem faz” e “Mestres da Reportagem”.

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2 COMENTÁRIOS

  1. A matéria está ótima. É necessário frisar que jornalismo não é glamour, devido a falta de percepção de alguns. E clichê é o aluno que se acha estrelinha e coloca fama como objetivo principal em jornalismo. Clichê, cansativo e entediante. Vamos gritar ao mundo que jornalismo não é glamour até entenderem.

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