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Nova Jabuticabeira

Jabuticabeira. Foto: Wikimedia Commons
Jabuticabeira. Foto: Wikimedia Commons

A democracia brasileira escolheu que a renovação dos cargos eletivos acontece a cada dois anos. A cada quatro são escolhidos o presidente, governador, senador, deputado federal e estadual. Uma vez dois senadores, da outra um, uma vez que o senado se renova de dois terços e um terço por vez. No meio de uma eleição e outra os eleitores escolhem os prefeitos e vereadores. O volume gasto para eleição dessas milhares de pessoas movimentam as arrecadações entre empresas, doadores, negociadores, investidores de toda ordem. Um volume razoável de dinheiro que nem mesmo a justiça eleitoral é capaz de avaliar uma vez que no meio desse cipoal se desenvolveu mais uma das jabuticabeiras brasileiras. O caixa dois tropical é uma invenção genuinamente nacional e bate de longe essa instituição em outros países do mundo em produtividade, inventividade, efetividade e criatividade. Certamente é mais uma contribuição para o desenvolvimento da democracia e do conhecimento universais.

Em ano eleitoral o destaque é para dois personagens. Os eleitos que querem a reeleição e os caciques donos dos partidos. Muitas vezes essas duas situações são exercidas pelo mesmo político. Os donos de partido tem o domínio do tempo na mídia, o horário obrigatório. Com isso são eles que determinam como e onde os candidatos vão aparecer e com que frequência. Elegem os chamados “puxadores de votos” e com isso excluem os demais. Outros preferidos também recebem um bom quinhão na propaganda, muitos são alimentadores do caixa dois. O cacique faz as vezes de um verdadeiro senhor feudal, ou capitão donatário. Ser dono de um partido hoje é melhor do que ter um cartório de notas ou de registro. Com a vantagem que os servos da gleba, ou do voto, são substituíveis a cada eleição e novos contribuintes sempre estão chegando. O cacique só não fica no balcão, ao lado do caixa, porque faz parte da jabuticabeira a discrição, o subterfúgio e os métodos para enganar o fisco. A legislação eleitoral vigente ajuda muito esse árduo trabalho. Não é de se espantar, foram eles mesmos que a fizeram.

Os pretendentes a novos políticos são movidos por ideais ou por patrocínio. Uns entram ingenuamente e ficam felizes quando recebem uma legenda do partido. Nem sempre gratuita. Mal sabem que são a massa de manobra, ou buchas de canhão como se dizia na época da ditadura. Juntam dezenas, centenas ou milhares de votos e raramente conseguem se eleger. No entanto, como na história da galinha que enche o papo de grão a grão, engordam a sigla. Fazem legenda, como dizem os jornalistas que acompanham as apurações. É ela que vai determinar quantos cargos proporcionais vão ser ocupados pelo partido. A soma dos nanicos, desconhecidos, idealistas, sonhadores, palhaços, malabaristas é responsável pela eleição ou dos caciques ou dos que vieram abastecidos com jabuticabas. Graças ao caixa dois, com pouco voto são eleitos nos parlamentos municipal, estadual e federal. São imprescindíveis para os negócios com os cofres públicos. Remuneram os investimentos feitos com folga e de quebra se tornam olheiros de novas oportunidades, abridores de portas de gabinetes ou abafadores de pequenos focos de incêndios provocados pela descoberta de corrupção. São verdadeiras frutas em botão como define o termo indígena de jabuticaba.

Por Heródoto Barbeiro

Perfil de Heródoto Barbeiro

Heródoto Barbeiro

Heródoto Barbeiro é jornalista, âncora do Jornal da Record News e do R7, diariamente as 21h. Ex-apresentador do Roda Vida da TV Cultura e do Jornal da CBN. Autor de vários livros na área de treinamento, história, jornalismo e budismo.

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