O “jornalismo de dados” pode ser um dos pilares do futuro da área jornalística. É o que afirmou o secretário-executivo da Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo), Guilherme Alpendre, durante a palestra que ele ministrou durante a Semana de Comunicação da Faculdade do Povo (FAPSP). Na ocasião, Alpendre fez um retrospecto da história da Abraji e do jornalismo investigativo no Brasil e no mundo.
Segundo ele, com a Lei de Acesso à Informação (Lei nº 12.527/2011, que entrou em vigor em 16 de maio de 2012), o jornalista investigativo passou a ter acesso a dados públicos que, quando sistematizados e analisados, podem gerar excelentes reportagens. “É um ponto de partida interessante para a projeção de uma bela pauta. Basta que o repórter saiba acessar esses dados e trabalhar com eles”.
Alpendre explicou para os alunos que a imagem do repórter investigativo ainda invoca muitos mitos e que essas ideias devem ser abandonadas. Ele destaca que o jornalismo investigativo envolve muito trabalho, verba e perseverança por parte do repórter, algo que vai muito além do glamour. “Hoje vemos um jornalismo que se intitula investigativo, mas que se ancora muitas vezes no trabalho que é feito pelo Ministério Público, com pouca base investigativa real”, complementou.
Para Alpendre, a melhor definição de jornalismo investigativo foi dada pelo repórter Jesse Eisinger, da ProPublica (organização de notícias investigativas sem fins lucrativos), que diz que esse é um jornalismo “difícil de fazer e chato de ler”.
“Isso porque, além de demandar muita pesquisa e apuração, os textos do jornalismo investigativo normalmente envolvem muitos dados. São textos longos, com muitas informações. Um texto que nem todo mundo tem paciência para encarar”, afirmou.
Mesmo sendo um trabalho difícil, Alpendre ressaltou que o jornalismo investigativo é vital, e citou o caso de muitas reportagens que denunciaram situações problemáticas da nossa sociedade, como o Caso Watergate, que talvez seja o mais conhecido de todos os tempos.
Quando perguntado sobre o mercado de trabalho, ele disse que o jornalismo investigativo é uma área muito difícil para se atuar, principalmente pelo custo. “Muitos dos grandes repórteres investigativos do Brasil deixam de atuar nessa área para atuar com assessoria de imprensa”.
Ao longo de sua palestra, Alpendre citou casos emblemáticos do jornalismo investigativo como a reportagem sobre “O Massacre em My Lai”, de 1969, feita pelo jornalista Seymour Hersh, que mostrou ao mundo como centenas de civis da aldeia vietnamita de My Lai foram friamente executados por soldados do exército dos Estados Unidos, durante a Guerra do Vietnã.
Por Emily Santos
Perfil da Autora
Emily Santos é aluna de Jornalismo da FAPSP. Adora a Helena de Machado de Assis e cultura pop, está sempre antenada, procurando uma boa história pra contar.