No início deste mês de agosto, o jornalista Ricardo Kotscho participou de uma entrevista aberta promovida pelo grupo Jornalirismo em São Paulo. Com 20 livros publicados, grandes reportagens contra a ditadura e o cargo de secretário de imprensa e divulgação da Presidência da República no início do governo Lula, Kotscho, que atualmente trabalha como comentarista da Record News, respondeu as inúmeras perguntas dos participantes.
Logo no início da entrevista aberta, ao ser questionado sobre o que achava dos jornalistas modernos não quererem mais ir pessoalmente até as fontes, Kotscho afirmou que, independente da disponibilidade das tecnologias que auxiliam o jornalista na hora de obter informação, é preciso sim sujar os sapatos. Segundo ele, a melhor forma (e a mais segura) para conseguir informações é ir pessoalmente até a fonte. Olhar nos olhos, observar a linguagem corporal do entrevistado e se colocar no ambiente em que ele vive, também são formas de se obter informação e segundo ele, tecnologia nenhuma deve substituir isso. Kotscho completa dizendo que na sua opinião, atualmente, o melhor jornalismo é o televisivo, que ainda vai aos lugares e entrevista as pessoas pessoalmente, pois precisa obter imagens.
Com meio século de carreira, Ricardo Kotscho já trabalhou em vários dos principais veículos da imprensa brasileira, “Só não trabalhei na VEJA (risos)”, afirma que nunca teve medo de perder o emprego por dizer o que pensa, mas acredita que antes de expressar a sua opinião, o repórter deve ser sempre fiel aos fatos e contar a verdade. Quanto ao patrocínio nos jornais, ele explica que é preciso ter sempre um bom senso se você vai escrever sobre alguém que te patrocina, mas faz questão de salientar, “o patrocínio nunca deve interferir no que você escreve”.
Confirmando o que ouvimos muito na faculdade, Ricardo Kotscho advertiu que o maior erro que um jornalista pode cometer “é não checar as fontes”. Outra questão levantada durante a entrevista foi se houve alguma matéria que, depois de ter sido publicada, ele tenha se arrependido de ter escrito, Kotscho contou que certa vez, ficou sabendo de uma olaria que funcionava de forma ilegal e empregava famílias inteiras (inclusive crianças), em condições ilegais. Teoricamente, a denúncia acabaria com a exploração das crianças e de seus familiares, mas o problema é que depois, as famílias ficariam desempregadas e consequentemente, sem ter nem o que comer. Kotscho confessa que foi uma decisão muito difícil de ser tomada, mas que acabou publicando a matéria e no dia seguinte a olaria foi fechada, as famílias que trabalhavam e moravam no local foram demitidas e o dono foi autuado conforme a lei. Kotscho confessou que ficou com um peso na consciência por se sentir culpado pela atual situação das famílias que foram demitidas e que se pudesse voltar no tempo, não teria publicado a matéria.
Para concluir esse breve texto, deixo aqui uma recomendação que o próprio Ricardo Kotscho deu a nós Focas: “O estudante de jornalismo deve correr atrás do emprego que almeja, hoje em dia falta ‘tesão’ por parte dos jornalistas em buscar novas oportunidades”.
Por Elias Brown.
Perfil do Autor
Elias Brown é estudante de Comunicação Social – Jornalismo pela Universidade Paulista – UNIP. Atualmente trabalha com mídias sociais na Livraria Cultura e nas horas vagas se dedica a música e a leitura. Contato: [email protected]