Há quatro anos, o final da faculdade era um sonho. Hoje, na última semana do último semestre, eu vejo isso como uma conquista real e palpável. Sonhos são perfeitos, nossas lutas diárias não.
No primeiro dia de aula deste ano, me dei conta que eu estava prestes a me formar, mas que não tinha nada certo para o TCC. Tentei formar um grupo com minhas melhores amigas da faculdade, mas não deu certo (esse momento é tão difícil que te faz brigar até com as pessoas que você ama). Quando pensei que teria que filmar um vídeo documentário sozinha, uma outra amiga, Jéssica Berto, se juntou ao meu lado nessa história. Estávamos desesperadas e não tínhamos mais tempo a perder, precisávamos apresentar o nosso tema para aprovação do orientador e da coordenação. Esse é um momento tenso, mas ainda não será dos piores.
Sempre me interessei por documentários. Pesquisei trabalhos de conclusão de anos anteriores e observei muitos temas repetidos: prostituição, moradores de rua, inclusão social, esportes etc. Mas não encontrava nada sobre a nossa profissão, sobre o jornalismo, sobre os jornalistas. Ficamos alguns dias pensando como seria nossa abordagem e preferimos um recorte mais sério, que é a violência contra jornalistas. No mundo inteiro os jornalistas têm sido vítimas de violência, mas no Brasil isso toma uma proporção muito acima da média, em inúmeras tentativas criminosas de silenciar a realidade dos fatos. Um fator importante para decisão do tema deve-se à falta de atenção ao assunto e a impunidade dos crimes contra jornalistas – que é muito mais que uma atrocidade.
Pessoas que não são jornalistas, por exemplo, talvez não façam ideia do que acontece no dia-dia de um jornalista investigativo ou de um repórter, seja ele da área de esporte ou segurança pública. Não estamos supervalorizando uma categoria de cidadãos, que fique bem claro, mas precisamos mostrar o quanto isso interfere diretamente na produção de notícias e em nossa sociedade. É preciso mobilização para quebrar o ciclo de violência e impunidade contra jornalistas. Afinal, segundo dados do Comitê de Proteção para Jornalistas (CPJ), desde 1992, o Brasil teve mais de 34 jornalistas mortos, o que nos coloca como o 11° país mais perigoso para jornalistas no mundo, mesmo não estando oficialmente em guerra.
“Ótimo, já temos um tema e agora é só fazer o que o orientador pedir e será lindo!” Não! Não será lindo, não será fácil e principalmente, se você não amar com todo seu coração aquilo que está fazendo, definitivamente não terá um bom resultado. Se você quer apenas uma nota para ser aprovado, por favor, não conclua esse curso. O jornalismo, e sobretudo nossa sociedade, não precisa de um jornalista como você. Se você não ama o curso, não adianta.
É necessário fazer um estudo aprofundado sobre aquilo que quer defender, você precisa pesquisar e dominar o assunto como ninguém: saber quem são as pessoas mais indicadas para entrevistar, saber elaborar perguntas pertinentes – sempre pensando na resposta do entrevistado – ter pró-atividade, investigar à fundo a vida da pessoa, conseguir o seu contato e o mais importante: ser muito insistente.
É difícil conseguir alguns contatos? Sim, mas não é impossível. Com empenho você alcança as coisas que pensava serem impossíveis. Algumas pessoas parecem ter pavor de estudantes e no momento em que você pede uma entrevista, a pessoa some do mapa e nunca mais te responde. Sim, as pessoas furam, vão te deixar esperando e não estão mesmo se importando com o seu trabalho e muito menos com a imagem que ela deixará para você. Pessoas assim podem surgir de monte, mas não desanime, elas serão uma espécie de estímulo para que você dê o seu melhor e para conseguir enxergar outras possibilidades. E não se preocupe: você também conhecerá pessoas incríveis que te ajudarão a construir seu trabalho da melhor maneira possível e te impulsionarão a levá-lo pra frente todos os dias. Essas são as pessoas mais importantes, não se esqueça delas. Serão alguns entrevistados, sua família, seus amigos e seus colegas de faculdade – que estão no mesmo barco em que você está.
Se você tiver um caso verdadeiro de amor com o jornalismo, as coisas não serão tão ruins ou difíceis quanto parecem ser. Você viverá momentos memoráveis e o aprendizado adquirido nessa fase é algo inigualável a outros momentos da faculdade (ou da vida). Esse é o tempo em que a sua carreira começa, que a sua história de vida (re)começa e é mais uma fase que você está atravessando. O melhor de tudo demora pra chegar, mas ele chega: o reconhecimento. E como diria o campeão: seja você quem for, tenha sempre como meta muita força, muita determinação e sempre faça tudo com muito amor, que um dia você chega lá. De alguma maneira você vai chegar lá. Boa sorte!
Assistam o meu documentário: Documentário – Jornalismo e a Violência na Profissão.
Foram entrevistados:
André Caramante (Ponte Jornalismo / Rede Record)
Bruno Quintella (TV Globo)
Bruno Cassucci (Lance!)
Ivo Herzog (Instituto Vladimir Herzog)
João Batista de Andrade (Memorial da América Latina)
José Roberto de Toledo (ABRAJI / O Estado de SP)
Lourival Sant’Anna (CBN / Instituto Fernand Braudel de Economia Mundial)
Milton Bellintani (Comissão da Verdade dos Jornalistas de SP)
Paulo Zocchi (Sindicato dos Jornalistas de SP)
Piero Locatelli (Repórter Brasil)
Sergio Gomes (Oboré)
Thiago Firbida (Artigo 19)
Valério Luiz Filho (Instituto Valério Luiz)
Yan Boechat (Istoé)
Fontes: ARTIGO 19, Comittee to Protect Journalists (CPJ), e Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ).
Perfil do Autor
Kamilla Morais, estudante de Jornalismo, quase formada. Acredita no bom jornalismo, no jornalismo independente e crê que o Brasil precisa investir nisso. Sobretudo, que a sociedade abrace a causa da segurança da imprensa, que é uma maneira de assegurar a verdadeira informação.
Olá Kamilla,gostei de ler seu texto. E vou assistir seu documnetário.
Estou voltando para o curso de jornalismo agora no primeiro semestre de 2016. Desejo sucesso pra mim e pra você e para todos que vão honrar essa profissão.
Deus nos abençoe.