Hoje é o primeiro dia do último ano da faculdade. Há quatro anos, esse dia era um sonho distante e desejado de todo o meu coração.
Hoje esse dia se tornou uma realidade e, sinceramente, não aguardei ansiosamente por ele, como nos últimos três anos. Não aguardei porque o jornalismo deixou de ser uma faculdade cursada no período noturno para ser algo que eu VIVO e respiro todos os dias, em todos os lugares. A universidade ficou em segundo plano, quando comparada à verdadeira e grande escola que é a rua.
A rua… com a sua realidade,suas notícias, suas sujeiras e suas infinitas histórias. A rua, matéria prima e endereço obrigatório para todos aqueles que acreditam no jornalismo real, muito além do telefone e do e-mail.
Hoje é o primeiro dia rumo ao último ano da minha maior conquista. Dentro de alguns meses receberei meu diploma, embora ele nem tenha mais tanto valor. Me pergunto se algum dia ele teve, de fato. Pouco importa, sinceramente. Sei que me preparo para deixar os bancos escolares como uma pessoa muito melhor do que quando ingressei: textos melhores e mais bem elaborados, novas formas de narrativas e um mundo de conhecimentos adquiridos.
Desenvolvi inúmeras outras habilidades. Em um mundo onde jornalismo é – ou deveria ser – fotografia literária, as lentes das máquinas fotográficas (ou dos smartphones) passaram a ser fundamentais para que eu conseguisse mostrar aos outros, com fidelidade e clareza, o meu modo de ver.
Me preparo para deixar os primeiros bancos universitários de maneira muito semelhante a de quando saí do ensino médio, em 2008: realizada por uma etapa concluída e com uma certeza MUITO clara na mente sobre o próximo passo: agora que eu já sei CONTAR, preciso me empenhar em ENTENDER a HISTÓRIA.
Saio uma Rafaella com mais critérios. Com um senso crítico muito mais aguçado. Com muito mais posicionamento e engajamento – enfim saí da maldita corda bamba que costuma nos levar para onde o vento sopra.
Saio com uma vontade do tamanho do mundo de defender a cultura em um cenário onde ela respira tão precariamente, mas não se entrega JAMAIS. Com um sonho de contribuir, através das minhas palavras e fotografias para que a arte tenha mais espaço; para que o teatro volte a expor de forma clara – e com a participação de TODA a população – as contradições do nosso tempo e nos fazer refletir.
Saio querendo ouvir essa gente que ninguém vê. Essa gente que constrói o mundo e que poucos percebem que existem. São as Marias, os Antônios, os Franciscos e as Anas. É o senhor que pesca no píer de Santos todos os dias as 6:45 da manhã ou aquela simpática senhora da praça, com suas ataduras nas pernas e seus olhos cheios de vida – que mudaram a minha vida.
Me preparo para sair da faculdade com a absoluta certeza de que se nada der certo, ainda assim eu vou querer colocar a mochila nas costas e o bloquinho na mão, seguindo uma viagem sem roteiros e nem destino por esse mundo cheio de histórias para serem ouvidas, escritas e vividas.
Último ano da faculdade: te enxergarei como o pontapé inicial de um futuro cheio de medos, sonhos e desafios. Não tenho certeza de absolutamente nada, mas não tenho medo nenhum de abrir mão de TUDO por um sonho que talvez só eu veja.
Por Rafaella Martinez Vicentini.
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Perfil de Rafaella Martinez Vicentini
Rafaella Martinez Vicentini é karateca, técnica em segurança no trabalho e uma eterna apaixonada por livros, palavras e fotografias. Estudante do 7º semestre de Jornalismo da Universidade Santa Cecília, por amor, divide sua rotina entre várias atividades. Além do serviço formal como TST, é editora da “Sessão de Terapia” da revista digital santista Sanatório Geral de Artes Visuais e mantém um blog pessoal, o Pensamentos Soltos.