a) Se você é capaz de falar, também será capaz de escrever. Escrever é coisa fácil, desde que você não dificulte ou complique. Desde que você queira desde que você goste, desde que você se dedique. Desde que você transforme o seu trabalho em um verdadeiro ato de amor.
b) Só se aprende a escrever escrevendo. Pedrinho Mattar, um dos maiores pianistas do Brasil treina tocando piano10 horas por dia. Todos os dias. Tenho certeza que ele sabe tudo de piano. Imagine então quem não sabe nada, nem de piano e nem de escrever…
c) Um grande nadador como o Gustavo Borges passa o dia inteiro na piscina. O Guga dorme com a raquete na mão. A diferença dessas atividades todas com o Jornalismo é que, no nosso caso, a gente tem que dormir, sonhar, acordar, respirar, almoçar, lanchar, jantar e cear jornalismo, histórias, casos para contar. Por isso tem que pensar, treinar, criar em todos os minutos do dia e da vida.
d) Você vai narrar fatos, contar histórias, mostrar situações, denunciar injustiças e, principalmente ecoar soluções que alguém eventualmente apresente.
e) Seu cérebro é seu guia, seu ponto de equilíbrio. Sua criatividade é o seu caminho. Sua ansiedade, seu desejo de participar e ajudar, e influir, e mudar, quando for o caso, são e serão seus objetivos eternos. Seus sentidos todos precisarão ficar alerta e antenados para descobrir e captar o que merece ser contado.
f) As palavras são suas ferramentas de trabalho. Quanto mais palavras você conhecer mais fluente, mais fácil e mais rico será o seu texto. Onde estão as palavras? As palavras estão nas bocas das pessoas, nos jornais, nas revistas, nos livros, nas emissoras de rádio e na TV, afora a internet. Para adquirir vocabulário você precisa ouvir e ler. De tudo um muito e não um pouco.
g) Todas as línguas têm suas regras básicas. O Português também. A concordância é uma delas. E é fundamental. Além do vocabulário você precisa conhecer gramática. Precisa conhecer a grafia correta das palavras. Precisa conhecer o significado de cada palavra que você usa. E tem obrigação de saber onde colocar cada vírgula, cada ponto, ponto e vírgula, até chegar ao ponto final. Tem que saber as regras no uso da caixa alta e da caixa baixa, ou letras maiúsculas e letras minúsculas. Como é que se escreve presidente e como é que se escreve Presidência, por exemplo. Quem não conhece ou não domina a sua língua nunca vai ser bom jornalista.
h) Escreva sempre na ordem direta. Fica mais fácil de ler e mais fácil de compreender.
i) Tudo o que todo mundo quer saber de um jornalista são as respostas às perguntas: quem? Quando? Como? Onde? O quê? Por quê? Quanto? O mundo quer ler ou ouvir informações claras, simples, diretas e objetivas. Só isso e não mais que isso. Simples assim. As coisas se complicam quando alguém se complica diante de tanta simplicidade e acaba metendo os pés pelas mãos. Faça só isso: seja simples, claro, direto e objetivo. E não coloque uma vírgula a mais ou a menos. Coloque sim muita criatividade.
j) Repetindo: texto bom é claro, simples, direto e objetivo. Diga tudo o que é preciso dizer com o mínimo de palavras e nem uma palavra a mais ou a menos. Claro que quando necessário sua reportagem poderá ter o tamanho de um livro. No entanto, grave bem, o jornalista vale pelo seu poder de síntese. Assim, se possível transforme um livro em uma página de jornal. Se for capaz, transforme essa página de jornal em meia página. Mais ainda, transforme essa meia página em um quarto de página. Faça mais: transforme esse quarto de página em dez linhas. Ou em cinco. Sem perder o sentido, passando a informação. Aí sim, você será um gênio…
k) Texto simples para jornal impresso, noticiário de rádio e televisão tem que conter o linguajar universal. Tem que ter a forma que as pessoas entendam e saibam corretamente do que você está falando, dentro do contexto que você quer ou deve atingir.
l) Guarde bem na cabeça: a comunicação não é o que a gente diz, mas o que as pessoas entendem. O que é óbvio para você pode não ser óbvio para o seu leitor. Por sinal, o óbvio só é obvio enquanto é óbvio. Sendo assim, só é óbvio quando é citado, falado, comentado. Seja simples, seja óbvio.
m) A coisa pega no começo do texto, no lead. A primeira frase, a segunda. É aí que se pega o leitor pelos olhos. Não existe uma maneira ou uma fórmula específica para começar um texto jornalístico, para começar a escrever a primeira ou a segunda frase. O bom texto jornalístico tem que começar da melhor maneira. E a melhor maneira é usar a criatividade, o cérebro. Pode começar com aspas, em uma frase do entrevistado ou pode começar com a mesma frase e sem aspas. Tem que ser instigante e emocionante. Emocione. Deixe o leitor curioso. Comece procurando a informação mais importante que você tiver e coloque na primeira frase.
n) Para o bem ou para o mal o jornalista é livre para escrever o seu texto. Não existem, repito, regras ou fórmulas mágicas para se fazer lide, começar a matéria. Você tem que responder o quem, quando, como, onde, o quê, porquê, quanto, é isso tudo o que o leitor quer saber. Analise o que for mais importante e mande ver. Chame a atenção e passe a informação.
o) Seja coerente e só mude de assunto quando tiver esgotado o assunto anterior. Isso para não ter que dizer, no meio ou no fim do texto coisas do tipo “como já dissemos anteriormente….”. Isso não existe em jornalismo. Como não existe esse negócio de escrever: “Como vimos,”, como falamos, como dissemos, nós, etc. Jornalista não se mete na história. O texto tem que ser impessoal. Sem eu, sem nós, sem nada.
p) O bom texto tem o formato de uma pirâmide invertida, você já deve ter ouvido falar nisso. Em outras palavras, tudo o que for importante tem que ser colocado no começo, na abertura do texto. Depois as idéias vão se sucedendo na ordem da sua importância. Uma frase puxa a outra e a ligação entre uma frase e outra, o tal link, tem que ser o mais suave possível.
q) A comunicação verbal tem musicalidade. Todos estão acostumados com essa musicalidade, pois vêm ouvindo desde que nasceram. Procure passar essa musicalidade da comunicação oral para a comunicação escrita. Escreva como quem está contando alguma coisa para alguém. Depois procure ler em voz alta para sentir se o texto tem ou não musicalidade. O bom texto é musical. Se não tiver “música”, não será um bom texto.
r) Finalmente: o nome é o maior patrimônio de um jornalista. Só assine um texto se ele for perfeito.
Por Professor Edgar de Oliveira Barros
Perfil de Edgar de Oliveira Barros
O professor Edgard de Oliveira Barros está há 40 anos no jornalismo, tendo iniciado sua carreira na redação dos Diários e Emissoras Associadas, a maior cadeia de jornais, emissoras de rádio e de televisão que o Brasil já teve.
É bacharel em Direito pela Universidade Mackenzie, foi repórter de jornais Associados, tendo trabalhado também nas extintas rádio Difusora e TV Tupi. No meio do caminho teve a Propaganda e Edgard trabalhou na MPM Propaganda, para depois fundar a sua própria empresa de publicidade, através da qual ganhou vários prêmios.
Durante 10 anos foi diretor de redação do extinto Diário Popular. Deixando o Diário Popular começou a dar aulas na FACOM/UniFIAM no ano de 1986.
Criou o jornal Imprensa Livre na cidade de Atibaia, com circulação regional. Semanário, o jornal passou a diário tendo inclusive implantado seu próprio parque gráfico com modernas rotativas. Trabalhava no mínimo 18 horas por dia e todos os dias. Cansou.
E faltou dinheiro. Parou o jornal e voltou a dar aulas, sua paixão, na FIAM. Publicou três livros de crônicas e um livro-manual de Jornalismo dedicado aos alunos da escola: Quem? Quando? Como? Onde? O quê? Por quê?.