Em uma das sessões de uma CPI no congresso o depoente não se contradisse, pelo contrário afirmou, reafirmou, confirmou várias vezes as mesmas coisas. Em nenhum momento demonstrou que tinha qualquer dúvida sobre o que dizia, nem caiu em contradição nenhuma vez, ainda que os parlamentares insistissem em suas perguntas instigantes. Depois soube-se que ele havia feito um media training para “alinhar” as respostas. Alinhar com quem? Isso nunca se soube. O fato é que em momentos de tensão como esse se descobre que o homem mente mais para si mesmo do que para os outros. Esta é a melhor e mais eficaz fórmula que se descobriu para enganar os outros. E funciona. Uma das técnicas é exagerar o sentimento de auto confiança. Pavonear, se for possível, e exibir coragem e conhecimento mesmo que não os tenha. O que vale é a impressão que deixou na plateia.
Há diversas outras situações que o mentiroso pode e precisa convencer. Uma delas é no debate político transmitido para milhões de pessoas pela imagem da tevê ou internet. Para chegar ao auge da eficácia precisa entender que a verdade reside no convencimento do público de suas razões e soluções para os grandes problemas da sociedade. Para isso é preciso um treino para que a astúcia transfigure a impostura e a mentira se mostrem sublimes ao ocupar o lugar da verdade. Um bom treino ajuda muito, mas alguns tem muito mais facilidade do que outros. Treinam espontaneamente desde jovens e quando chegam na maturidade são uns craques. Assim mentem mais para si mesmo do que para os outros. Sabem que mentir para si mesmo é a melhor maneira de conseguir enganar os outros. Há inúmeros exemplos na história.
Os melhores mercadores de ilusão são os psicopatas, os mitômanos. Não se contentam em inventar mentiras, acreditam fielmente nelas e com isso se tornam extremamente convincentes, capazes de enganar uma multidão se sua mensagem usar o veículo eletrônico. O auto engano tem dupla consequência. De um lado funciona como um mecanismo de auto defesa, por exemplo em um debate político na tevê. Para sobreviver em uma disputa eleitoral as mentiras reconfortam como um narcótico e ajudam a derrotar o oponente. Não importa o que afirmam, o que importa é no que acreditam. É o escudo com o qual muitos políticos sobreviveram. Há inúmeros e emblemáticos exemplos na vida política nos últimos anos. De outro lado o auto engano tem uma função estratégica, como posso errar se acredito na mentira que falo? Desde a antiguidade se desenvolvem técnicas para derrotar o adversário, seja um oponente político, seja o público a quem cabe decidir em quem vai votar. O auge do sucesso é vencer sem combater, basta enganar o inimigo como tantas vezes se viu na história.
Por Heródoto Barbeiro
Perfil de Heródoto Barbeiro
Heródoto Barbeiro é jornalista, âncora do Jornal da Record News e do R7, diariamente as 21h. Ex-apresentador do Roda Vida da TV Cultura e do Jornal da CBN. Autor de vários livros na área de treinamento, história, jornalismo e budismo.