InícioDebate FocaUm mundo de desumanos, um jornalismo de robôs

Um mundo de desumanos, um jornalismo de robôs

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Uma mulher foi baleada, jogada no porta-malas de um carro, feito um animal, arrastada por 250 metros e morreu de uma forma tão desumana, que nem bandido, nem animal, mereceriam uma morte assim. Numa sociedade onde a cotação de uma vida está cada vez mais rebaixada, não espanta muito, ou, talvez não seja tão surreal assim a ideia de robôs escreverem como jornalistas. Afinal de contas, já temos visto muitos jornalistas robôs por aí.

O professor de mídia e comunicações da Karlstad University, na Suécia, estuda um personagem nesse cenário de transformações tecnológicas que na verdade é um velho conhecido entre nós, mais conhecido como robô.

Uma avaliação feita com cerca de 27 pessoas, mostrou que as pessoas confundiram quem era o autor de uma nota jornalística. Por vezes, a nota feita por robôs foi confundida com uma nota escrita por um jornalista e vice-versa.

Ou seja, será que estamos nós, confundindo as palavras, os textos? Será que estamos nós, escrevendo de uma forma não manual, fria, automática para sermos confundidos e comparados ao texto de um robô?

Isso realmente pode ser preocupante. Não é de hoje que a mão de obra tem sido trocada por máquinas e mais máquinas, a revolução industrial que o diga. Porém, com o cenário da revolução digital e todas as vertentes em relação à comunicação, o cenário do jornalista também tem sido modificado de forma rápida e até brusca, por assim dizer.

Há tempos as pessoas têm migrado de um veículo para o outro. Do jornal impresso para o rádio, do rádio para a TV e agora, da TV para a internet. Não que os outros veículos tenham deixado de existir ou algo parecido, mas a sensação que se dá é que está todo mundo em um constante “xeque”. Não existe a menor possibilidade de um meio ficar acomodado, ou seja, não se reciclar, se reinventar, fazer o novo, o inusitado, o diferente, sem perder a qualidade e tão pouco, a agilidade.

Agilidade é a palavra da vez, dos dias, semanas, meses, do século. E aqui o jornalismo se encontra, ou nesse caso, tem se perdido. Dar uma notícia de forma rápida, objetiva, que se faça ser entendida, mas ao mesmo tempo rica, bem feita, humana. Uma notícia humana? Parece confuso? Vamos lá.

Primeiro, a briga para derrubar a obrigatoriedade do diploma, supondo que qualquer pessoa possa escrever, sem necessariamente ter uma formação jornalística. Depois, a busca para quem vai dar a notícia primeiro. Uma notícia verdadeira? Sim. Completa? Talvez. Com detalhes? Provavelmente não.

É muito comum ver erros gramaticais em manchetes, linhas finas, chamadas. Um absurdo? Sim, não, talvez. Somos seres humanos, passíveis de erros. Qualquer um de nós pode errar, mas e os robôs, eles erram?

Vejamos, se um robô não erra e, facilmente consegue escrever uma notícia de uma forma objetiva e simples, será que realmente devemos ter motivo para medo? Receio que sim se nenhuma mudança for feita. Hoje em dia tudo é substituível. Perdeu-se o valor pelo único, pelo ímpar. Pessoas são tratadas como objetos, podendo ser trocadas como tal.

Para não sermos substituídos por robôs ou não nos tornamos um deles, mudanças precisam ser feitas e rapidamente. A começar por um jornalismo que priorize mais os detalhes e menos, bem menos a simplicidade, a pobreza e a praticidade. Na verdade, trata-se de um jornalismo mais humano. O segredo de uma boa entrevista (além de jogo de cintura e boas perguntas) é o olho no olho. Como diz Eliane Brum: “o jornalista precisa colocar o pé na lama”, é fato que a correria do dia a dia torna por vezes inviável fazer todas as entrevistas e matérias pessoalmente, mas o jornalista não pode perder isso de vista.

Outra coisa muito importante que citou Ivan Martins certa feita é, “jornalista precisa ter simpatia e interesse ao ouvir as histórias dos outros. Se você não se interessa pelos outros, dificilmente vai ser um bom jornalista”.

Tomei a liberdade de citar esses dois jornalistas e colunistas porque concordo com eles em número, gênero e grau. Recém formada em jornalismo e começando nessa estrada agora, já aprendi que o jornalista é a agenda que ele tem e também as melhores matérias surgem daquele fato, homem, momento que ninguém vê.

É por essas e outras, meu caros, que o jornalista precisa se atentar aos detalhes, ter os olhos, ouvidos, as mãos e até os pés envolvidos com o processo de produção de uma matéria, seja ela no impresso, na internet ou na TV, do contrário, poderemos ser facilmente substituídos por robôs e depois não vai adiantar chorar pelo leite derramado.

Por Regine Luise.

Perfil de Regine Luise

Regine Luise

Ama, doa, sonha, dramatiza, sorri, chora e escreve. Não necessariamente nessa ordem. Jornalista por profissão, poeta de coração. Prazer, Regine Luise.

Contato: [email protected]

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