InícioEntrevistasUma conversa com Eliane Brum

Uma conversa com Eliane Brum

"Quando eu entrei (pela primeira vez) em uma redação é que eu descobri que ser repórter é a melhor profissão do mundo", afirmou a jornalista. (Foto: Divulgação)
“Quando eu entrei (pela primeira vez) em uma redação é que eu descobri que ser repórter é a melhor profissão do mundo”, afirmou a jornalista. (Foto: Divulgação)

Repórter desde 1988, Eliane Brum acumula mais de 40 prêmios nacionais e internacionais de reportagem. Amante da leitura e da escrita, ela é também autora do romance “Uma Duas”; do livro de crônicas “A Menina Quebrada”; de três livros-reportagem “Coluna Prestes – O Avesso da Lenda”, “A Vida Que Ninguém Vê” e “O Olho da Rua”; e de uma autobiografia “Meus desacontecimentos”. Atualmente a jornalista assina uma coluna na versão brasileira do El País.

Início no Jornalismo

Em entrevista exclusiva para a Casa dos Focas, Eliane Brum contou um pouco sobre sua carreira e experiência no jornalismo. Ela revelou que antes de cursar jornalismo não tinha convicção de que queria ser jornalista. “Meu primeiro vestibular foi para biologia, quando eu me inscrevi em jornalismo, na verdade eu iria me inscrever em informática, mas acabei me inscrevendo em jornalismo, e até o fim da faculdade eu achava que eu não servia para ser jornalista, porque eu sou muito tímida.”

Nos tempos de faculdade Eliane pensou em abandonar o jornalismo, mas depois que entrou em uma redação pela primeira vez, sentiu a convicção de que ali estava a sua vocação. “Quando eu entrei em uma redação é que eu descobri que ser repórter é a melhor profissão do mundo, que era isso que eu queria fazer, por que eu busco descobrir qual é a grande pergunta que me move nesse mundo, que é entender como cada um dá sentido para sua vida, em geral com muito pouco.”

A Deadline e os textos longos

Conhecida por escrever textos longos na internet, Eliane afirmou que a internet provou que os leitores gostam também desse tipo de texto.

Perguntada sobre a deadline, o tempo que lhe é estipulado para escrever, a Eliane Brum explicou que não tem tanto problema com isso, pois trabalha por vários dias em seus artigos e em algumas ocasiões chega a levar até um mês para realizar uma entrevista. “Primeiro eu preciso olhar o mundo, estar na rua, entendendo das coisas que estão acontecendo, conversar com as pessoas. Eu parto de uma ideia, mas isso é só o começo. Eu preciso fazer uma longa investigação, onde essa ideia será quebrada muitas vezes, até eu chegar naquilo que eu acho que é o que eu posso dizer.”

Na sua opinião, “só vale a pena eu escrever se eu der ao leitor um ângulo novo, ou pelo menos que eu possa colaborar para que ele entenda as questões de outros ângulos. Então eu só escrevo se eu tenho algo a dizer que ainda não foi dito, ou que não foi dito da maneira como eu posso dizer. Então dá bastante trabalho”.

O jornalismo e a internet

A internet e as novas tecnologias trouxeram inúmeras mudanças na forma de fazer jornalismo. A jornalista acredita que uma das principais mudanças que a internet trouxe para na prática jornalística é o acesso que o leitor tem ao autor. “Um acesso direto, imediato e instantâneo. Eu acho que com a internet o leitor muda de lugar. O leitor era uma entidade meio metafísica até a chegada da internet. Se falava muito sobre o que ele pensava, mas de verdade a gente não sabia muito o que ele pensava”.

Brum destaca também que o texto na internet tem muito mais permanência. “Tem textos de 2010, de 2011, que ressurgem porque alguém descobriu e começa um outro debate”. Para ela “o leitor se transformou em escritor, na medida em que os textos na internet viram uma espécie de textos debate, eu começo a escrever e os leitores continuam. Contestando, acrescentando, dando o seu depoimento, sua experiência, vira um grande debate que dura meses, às vezes anos”.

O repórter como protagonista

A escritora defende que o repórter hoje deve ser um protagonista. “Quando eu comecei nos anos 80 o caminho era mais ou menos conhecido. O desafio era entrar numa redação e tu podia fazer uma carreira inteira dentro da mesma redação. Hoje mudou, e o jornalista precisa ser protagonista, precisa criar os seus próprios espaços para fazer as suas reportagens.”

Dentre as qualidades que todo jornalista deve ter, Eliane Brum ressalta que a primeira é “saber escutar”. “As pessoas acham que isso é fácil, mas não é. Isso é bem difícil. Precisa de uma disposição interna. O jornalismo não começa fora, ele começa dentro da gente. A primeira rua que a gente atravessa é uma rua interna. Então, aprender a escutar é o nosso principal instrumento.”

Ao final da conversa, Eliane Brum deixou um conselho para os focas. “Acho que a gente tem que parar todo dia, por pelo menos um minuto, para lembrar porque a gente escolheu ser repórter. Lembrar dos nossos sentidos e também refazer os nossos sentidos. Para a gente não se perder da gente mesmo nesse mundo que mastiga a gente.”

Por Emílio Portugal Coutinho

- Advertisement -
Emílio Coutinho
Emílio Coutinho
O jornalista, professor universitário e escritor Emílio Coutinho criou a Casa dos Focas em 2012 com o objetivo de oferecer um espaço para o ensino, a reflexão, o debate e divulgação de temas ligados ao jornalismo e à comunicação em geral.
- Advertisement -
Siga-nos
17,516FãsCurtir
10,000SeguidoresSeguir
92SeguidoresSeguir
2,595SeguidoresSeguir
117InscritosInscrever
Leia também
- Advertisement -
Novidades
- Advertisement -

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui