Aí, de repente, sem mais nem menos você vira pra mim e pergunta: “Vale a pena ser jornalista?” Confesso que fico embasbacado. Porque a pergunta veio justamente na hora em que alguém me contou que o Diário Oficial da União deixou de ser impresso e agora só pode ser lido ou visto e consultado pela internet.
Notícia ruim corre mais que bobagens do Trump ou besteiras do governo brasileiro. Não vai demorar muito a ideia vai se espalhar e tudo o mais vai pro inferno, opa! – a música é outra, eu quis dizer que não demora muito tudo quanto é jornal, revista e publicações do gênero só virão pela internet, desculpem a nossa falha.
Quase eu disse que, daqui pra frente, as burrices jornalísticas ficam restrita ou disponíveis só na internet. E olhem lá.
Três ou quatro considerações a respeito: dia destes, numa das últimas edições da Revista Época (edição de número 1015, data de capa 4 de dezembro de 2017), o conceituado jornalista Helio Gurovitz, escreve em sua coluna que “…o principal defeito dos jornais e revistas brasileiros está na deterioração do texto”. E diz mais: “O Brasil talvez seja o único país em que alguém pode ser jornalista bem-sucedido sem saber escrever direito”. Ele ameniza a coisa dizendo que sempre vai existir nas redações editores abnegados, dispostos a reescrever qualquer aberração, e depois assinar com o nome alheio. É doloroso.
Pior é que, nesta altura do campeonato, com o fim do impresso, com a internet comendo solta, com os books e facebooks mandando ver, com milhões de “jornalistas” ou críticos de arte, de costumes, de futebol, de sacanagens gerais e sanitárias, todo mundo se acha um pouco jornalista, um pouco ou muito, corrijo, e manda ver.
E criticam sem saber o que. E metem o pau, porque, a ideia que se tem, a ideia que se vendeu é que o jornalista é aquele sujeito que fala mal de tudo, que desce o cacete no governo, na situação e até na oposição, e normalmente o figura altifalante nem sabe do que se trata. Falar mal dá ibope. Dá curtidas e tal.
Como a coisa é genérica, universalizando a notícia, ou transformando a notícia em fofoca pura e simples sou levado a concordar com o companheiro Helio Gurovitz. E olhe que ele não falou tudo o que poderia ter falado. E também nem eu quero falar ou pensar tudo o que poderia falar ou pensar.
Brincando, brincando, adorando cada minuto vivido, devo dizer que passei a maior parte da minha vida, para não dizer a vida inteira, vivendo notícia, procurando notícia, escrevendo notícia, apurando notícia, buscando notícia, analisando notícia (será que é notícia, será que não é? Será que vale a pena, será que não vale) ensinando notícia, numa emoção atrás da outra, numa vida adorável de não saber o que iria acontecer no minuto seguinte. Vai daí, tenho a ligeira impressão e a certeza mais que absoluta de que a imprensa escrita acabou. Isso para não alongar a história e dizer logo que a boa imprensa acabou.
Mas a pergunta de fato é sobre se vale ou não a pena ser jornalista. Acho que a resposta até já foi dada: vale tanto a pena que todo mundo agora resolveu ser jornalista. O problema é que, como já visto, não é fácil ser jornalista.
A questão do texto é altamente relevante, sem nenhuma dúvida, como apontou o jornalista Gurovitz, no entanto, mais que o texto, o importante é a verdade que deve estar sempre presente em cada texto, em cada participação do jornalista. O jornalista é um dos “bichos” mais procurados pela bandidagem em geral em todo o mundo. Estão aí as pesquisas e as informações corretas alertando sobre o número de jornalistas assassinados ou “condenados” em todo o mundo. E o Brasil é um dos campeões nessa arte da bandidagem.
Tudo por causa justamente desse pequeno detalhe: a verdade. O jornalista não fala por falar, ele busca a verdade. E a verdade não tem preço. A verdade vira o mundo, derruba presidentes dos países mais importantes. A verdade destrói grupos de exploradores. A verdade corrige rumos, a verdade desperta um povo, a verdade é a maior das armas.
O jornalista anda atrás disso, da verdade. E o que é que ele ganha com isso? O que ele ganha não tem preço. Ele ganha o orgulho de uma história bem apurada, bem contada. Ganha o orgulho de saber que a verdade prevaleceu.
Sabem a coisa que eu mais me orgulho? É quando eu passo em um ou outro lugar, e vejo pessoas me olhando e cochichando. Eu finjo que não vejo, juro, mas apuro o ouvido pra ouvir que elas dizem: “Ele é jornalista”.
É tanto orgulho que me dá até vontade até de chorar.
Por Edgard de Oliveira Barros
Perfil de Edgard de Oliveira Barros
O professor Edgard de Oliveira Barros está há 40 anos no jornalismo, tendo iniciado sua carreira na redação dos Diários e Emissoras Associadas, a maior cadeia de jornais, emissoras de rádio e de televisão que o Brasil já teve.
É bacharel em Direito pela Universidade Mackenzie, foi repórter de jornais Associados, tendo trabalhado também nas extintas rádio Difusora e TV Tupi. No meio do caminho teve a Propaganda e Edgard trabalhou na MPM Propaganda, para depois fundar a sua própria empresa de publicidade, através da qual ganhou vários prêmios.
Durante 10 anos foi diretor de redação do extinto Diário Popular. Deixando o Diário Popular começou a dar aulas na FACOM/UniFIAM no ano de 1986.
Criou o jornal Imprensa Livre na cidade de Atibaia, com circulação regional. Semanário, o jornal passou a diário tendo inclusive implantado seu próprio parque gráfico com modernas rotativas. Trabalhava no mínimo 18 horas por dia e todos os dias. Cansou.
E faltou dinheiro. Parou o jornal e voltou a dar aulas, sua paixão, na FIAM. Publicou três livros de crônicas e um livro-manual de Jornalismo dedicado aos alunos da escola: Quem? Quando? Como? Onde? O quê? Por quê?.
Acompanhe os textos do Professor Edgar publicados na página Mixtura Fina.